(SARDINHAS Foto de Carole Garton)
Santo António é de Lisboa, celebrado dia 13 de Junho, popular, casamenteiro, e animador das Festas de Lisboa. O ponto alto dos festejos é, sem dúvida, o desfile com competição das Marchas. Temos assistido a um aumentar das famosas marchas e que revelam um lado mais animado desta entristecida população de Lisboa. A categoria, e melhoria da sua qualidade, tem vindo a crescer e esperamos que dentro em breve as marchas farão parte de um calendário de grandes animações portuguesas. Apesar de não ter apreciado tanta “República” nas marchas. Não, não será como o Carnaval que muito tem andado a descaracterizar-se. Aliás apetece-me escrever que as marchas têm melhorado bastante apesar de algumas parecerem adquirir um sentido carnavalesco. No conjunto as marchas estão cada vez melhores.
Apesar do meu afastamento de comportamento religioso, é uma questão de Fé, continuo a reconhecer que as festividades religiosas contribuíram para a instalação de actos festivos profanos e essencialmente lúdicos que levaram a uma construção da estética popular associada a estes festejos. Quase não vi os famosos “altares” de Santo António. Claro que a procissão de hoje encerra os festejos religiosos com uma participação generosa.
Os Santos Populares de Junho, celebrados também no Brasil como Festas Juninas, Santo António, São João e São Pedro deveram origem a tradições alimentares comuns. A sardinha costuma ser rainha. Este ano, e possivelmente pelos desígnios de Deus, não tivemos ainda boa sardinha, gorda e que transpira a sua gordura sobre o pão que, para mim, constitui um daqueles prazeres aprendidos na província e que se mantêm nestas deambulações urbanas. A sardinha está seca e ontem um assador sugeriu-me que “comesse da congelada que estava melhor que a fresca”. As sardinhas são boas é assadas, nunca fritas. E muitos dizem que o segredo é embrulhá-las em bastante sal grosso e depois assá-las em brasa não muito próxima. E as vozes do povo, bem sabedor, que dizem “A sardinha bem salgada, bem cozida e mal assada”. Quer dizer, em linguagem moderna dar-lhe uma cozedura exacta. Já noutra ocasião escrevi sobre sardinhas nestas minhas crónicas.
Comecei a noite na Mouraria, bairro continuado da minha eleição. Talvez por ter absorvido, noutras gerações, costelas e ares dos mouros que neste bairro estiveram confinados. E comecei por comer sardinhas mas não foram assadas. Marinadas em excelente “ceviche”. Comi em casa da minha amiga Adriana que nesta data nos presenteia com um buffet bem recheado. Mas o repasto não abdica do cheiro e fumo, das sardinhas que são assadas no Largo do Terreirinho, e nos entra e espalha pela casa toda. Depois claro, vamos para a rua. Porque a festa é na rua. Os assadores recebem outros produtos para além da sardinha. Lá encontramos os pimentos necessários para uma boa salada. Também assistimos à presença carnívora, com marioria do “reco” nas componentes chouriça, entremeada e fêveras. Ainda frango. Já fora dos assadores encontramos como elementos maioritários o pão com chouriço e o imprescindível caldo verde. E muita bebida. Muito vinho e muita cerveja.
Tradições que não se perdem são os vasos com manjericos, com o seu cravo em papel e uma quadra alusiva.
Divirtam-se e comam com prazer. A comida acompanhada com vinho sabe melhor. Mas aprendam a beber com moderação.
© Virgílio Nogueiro Gomes
Depois de editado este texto é que soube o resultado do Concurso das Marchas: ganhou a Marcha de Alfama que pôs em evidêncio o delicado trabalho artesanal das Filigranas Portuguesas. Parabéns.