Ginette Mathiot Internacional
A minha observação constante sobre livros estrangeiros que escrevem sobre Portugal ou publicam recetas à portuguesa leva-me a encontrar peças muito diversas e por vezes a sentir alguma estranheza para identificar esse receituário como português. Publiquei recentemente uma crónica sobre esta autora, best seller em França com o livro anteriormente apresentado, e que podem reler clicando aqui.
Apesar daquele livro ter receitas à portuguesa, o livro agora apresentado tem como título “Je sais cuisinier autor du monde - Cuisine étrangère et exotique”. E na capa vê-se bem a bandeira de Portugal, o que aumentou a minha curiosidade. Este livro teve a primeira edição em 1965, mas o exemplar que tenho em casa é a edição de 1983. A maioria dos livros desta autora começa o tútulo por “Je sais cuisinier…”. E eu não duvido disso. Terei algumas reservas a considerar o receituário deste livro de receitas estrangeiras e exóticas como autênticas de cada país apresentado. Perdoada pelo pequeno texto da contracapa onde se pode ler…Ginette Mathiot conseguiu juntar, graças aos numerosos amigos com que conta no mundo inteiro, cerca de seiscentas receitas originais e relativamente fáceis para executar.
Quando escrevi sobre o livro “Je sais Cuisiner” no qual são apresentadas nove receitas à portuguesa pensei que estas seriam transportadas para o livro de cozinha internacional. Enganei-me, as receitas neste livro são diferentes, mas mais portuguesas, apesar dos comentários que poderão ler em baixo, do que as anteriores. Agora são apenas sete, mas mais “portuguesas”.
Capa do livro com o detalhe de o garfo estar colocado “à francesa”
O livro contempla dezanove países na Europa, nove países em África, onze países nas Américas, sete países na Ásia e um país na Oceânia.
Vejamos as receitas atribuídas a Portugal, sete, conforme são tituladas e a sua tradução quando existe:
- Soupe aux haricots secs, tradicional sopa com feijão seco, batata, cebolas, presunto, toucinho e chouriço
- Sardines grillées avec salade, sardinhas grelhadas com o detalhe da salada ser de tomate com cebola e pimentos assados
- Bouillabaisse de poissons (Caldeirada à Pescador), caldeirada a partir de um refogado e com variedades de peixes aos quais junta no final bivalves, sem batata, mas com guarnição de pão fatiado e torrado no forno
- Croquettes de morue (Bolinhos de Bacalhau), semelhantes aos nossos bolinhos, mas tem exagero de batata com peso em dobro do de bacalhau
- Morue à l’étoffé (Bacalhau à congregado), deveria chamar-se “à Congregados” pois a receita é semelhante
- Biftecks à la portugaise, um bife simples, salteado com manteiga e azeite e depois sugere terminar o molho com vinho do Porto, mas, infelizmente, propõe …ou mieux du Xérès. Duvido que algum português lhe tenha enviado uma receita com este final.
- Ragoût de porc, lendo a receita a correr até parece carne de porco à Alentejana. De facto, leva porco cortado em bocados iguais e que vai estufar durante duas horas em molho com tomate. Dez minutos antes de servir juntar os bivalves (não especifica as ameijoas). E faltam-lhe os inevitáveis coentros…”
Boas férias.
© Virgílio Nogueiro Gomes