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Pois é. Não é pelos calores do verão. É por uma boa causa que assistimos publicamente à bigamia do Pastel de Nata. O peso da sua história transformou-o, possivelmente, no melhor e mais difundido ícone da doçaria portuguesa. Lamentavelmente não apareceu candidato às 7 Maravilhas da Gastronomia Portuguesa porque ninguém o candidatou. Mas não é por isso que perde a sua categoria, nem vai diminuir o seu consumo.

As notícias do Pastel de Nata aparecem nas primeiras receitas escritas, no caderno de receitas da Infanta Dona Maria (1538-1577), com a designação de “Pasteis de Leite” muito embora a massa exterior não seja a mesma mas podemos quase afirmar que estes “Pasteis de Leite” são antepassados do atual Pastel de Nata. Mais recentemente nos registos das últimas freiras do Mosteiro de Odivelas que encerrou em 1886, encontramos a receita número um com a designação de “Pastéis de Nata” cujo conteúdo poderia ter inspirado os atuais. Mas deixo os detalhes para outra crónica.

Desta vez estamos para ver a maridagem proposta para os Pastéis de Nata da Pastelaria Aloma. Esta pastelaria decidiu, e muito bem, organizar uma prova de harmonia entre o Pastel de Nata Aloma com vinhos generosos portugueses. A prova decorreu na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa e com a eficiência da Alexandra Maciel. Foram provados vinte vinhos e o júri era constituído por vinte e cinco elementos nos quais eu me encontrava. Confesso-vos que a tarefa não foi fácil.

A maioria dos portugueses já provaram, e muitos consomem, o Pastel de nata. Muitas vezes a acompanhar o café. Ou simples no intervalo de refeições. Pois a Aloma deixou-nos este saudável desafio: encontrar o generoso português que, de melhor forma, se casa com o Pastel de Nata. A pastelaria contactou os produtores e estes enviaram os seus vinhos com a sugestão da temperatura a que deveriam ser servidos.

Quando escrevi a bigamia do pastel, queria referir-me a que o primeiro prémio foi atribuído com a mesma pontuação a dois vinhos: “Abafado Quinta da Alorna 5 anos” e “Moscatel de Setúbal Bacalhôa Moscatel Roxo 2000”. O pastel apesar de bígamo não aceita uma partilha em simultâneo: é um vinho de cada vez. Em segundo lugar também ficaram dois vinhos com a mesma pontuação: “Madeira Justino´s Colheita 95” e “Porto Dalva Colheita 1999”. Em terceiro lugar e quinto classificado o “Porto Andresen branco 10 anos.” Pronto, agora é só começar com as suas experiências, desde que seja um generoso português. Daí eu chamar bígamo ao Pastel de Nata. Vai ou casa-se com vários!

Viva o Pastel de Nata.

© Virgílio Nogueiro Gomes

Julho 2011

A Pastelaria ALOMA fica:

Rua Francisco Metrass, 67, Lisboa (Campo de Ourique) e encerra à 2ª feira