Pastéis São Vicente
Quando se vê um doce cuja denominação está associado a figuras da Igreja Católica há uma tendência, errada, de pensar que se trata de doçaria conventual. Este tipo de doçaria não tem esse exclusivo, nem é a única de excelência açucarada.
Este pastel ainda é uma criança. Nasceu em 2017 e a sua visibilidade extinguiu-se no final do mesmo ano quando o Centro de Artes Culinárias foi forçado a sair do Mercado de Santa Clara, em Lisboa, vizinho do Mosteiro de São Vicente que lhe deu o nome. A associação que criou aquele centro, mantém um espólio, importante para um possível espaço de interpretação da culinária portuguesa, com centenas de peças guardadas num armazém. Aguardam-se propostas para reinstalação daquele equipamento de fazer inveja a muitas coleções.
Mas o Pastel de São Vicente nasceu para mostrar que aquele espaço não era uma exposição morta, mas local de várias atividades culinárias. E começou a vender, esgotando com facilidade as fornadas. E depois ainda aceitava encomendas e eu tenho a sorte de ser amigo da criadora da receita que continua a executar para nosso prazer. Não é meu hábito dar a receita nem o farei desta vez. No entanto darei pistas para quem se quiser aventurar…
A delicadeza deste pastel começa com a massa externa que, tão frágil, quando entra na boca se desfaz sem sentir o gosto a farinha. Sim porque é feita a partir de uma farinha especial moída artesanalmente. Depois tem o recheio que é preparado a partir de um ponto de açúcar ao qual se juntam gemas de ovo e amêndoa em grão muito fino e, isto é um palpite meu, um pouco de noz. Depois de os produtos estarem todos bem envolvidos e com uma massa homogénea, enchem-se as formas de pastéis forradas com a massa externa e vão ao forno. Depois polvilham-se com açúcar em pó. Depois de frios embrulham-se, cuidadosamente, em papel para que os pastéis não toquem uns nos outros e se partam.
Estes pastéis lembram-me alguns outros pastéis como os de Santo António, de Pernes, ou de Vimioso sobre os quais também já escrevi, mas que são diferentes. Parecidos só na aparência.
Não sendo excessivamente doces despertam, sempre, vontade de comer mais um! Para mim o melhor acompanhamento será um café. Chá ou algumas infusões também são boas soluções para um lanche. Este pastel também poderá ser utilizado como sobremesa compondo o prato com ovos moles de Aveiro, ou gelado contrastante como de manjericão, e ainda algumas frutas tratadas.
Se alguém estiver muito interessado numa encomenda poderei dar individualmente o contacto para a entrega.
Bom Apetite!
© Virgílio Nogueiro Gomes.