Pastéis de Vimioso

 

 

 

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É infindável o inventário da doçaria portuguesa, da popular à conventual, e acrescida de novas criações que, devagar, vão entrando no nosso consumo e depois passarão também a ser uma tradição. Quantos anos são necessários para uma receita nova ser considerada tradição? Trinta, quarenta, cinquenta? Imprevisível! Já assisti a modas e depois desaparecerem...

A minha amiga Cristina Castro continua com a aventura elogiável de fazer o inventário da nossa doçaria, num projeto que podemos sempre assistir em noponto.pt ou nos livros já editados que comtemplam a região do Norte, e a do Sul. Esperamos que o da região Centro saia ainda este ano, e depois o volume para as ilhas da Madeira e dos Açores.

 

 

 

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É um lugar comum, e nem sempre com as respostas mais certas ou sérias, quando se fala de um doce bom e requintado associá-lo à classificação de conventual. Tantos disparates a que tenho assistido. Não era só nos conventos que se fazia doçaria rica ou delicada! Dizem que o nome “conventual” faz vender mais... Quando o doce é bom não precisa de apelidos. E, independentemente de se integrar numa matriz culinária comum da doçaria conventual, só se deve chamar conventual quando temos a sua origem confirmada documentalmente ou a transmissão oral confirmada por gerações que fizeram chegar o doce até nós. Sempre que me apresentam um doce conventual que não conheço pergunto sempre: de que convento? Não é só a doçaria conventual que pode ser requintada e rica.

 

 

 

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Tanta conversa para chegar aos Pastéis de Vimioso, que também se conhecem como Pastéis de Amêndoa de Vimioso, e parece que nos inícios do século XX se chamariam de Lamego! Recentemente estive na Feira das Cantarinhas de Bragança e, na Praça Camões, encontrei um posto de venda de “Pastel d’ Amêndoa D.a Antoninha”. Achei que os pastéis eram idênticos a outros de Vimioso que já tinha comido em outras ocasiões. Estes muito bem-apresentados, embalagem cuidada e a única diferença visível é a forma como a amêndoa da cobertura se encontra cortada, diria que é laminada. Em outros pastéis a amêndoa encontrava-se em pequenos palitos. Para mim, o elitismo deste pastel é a qualidade, espessura, da massa externa. Tão fina que quebra sem esforço à primeira dentada. Há quem diga que esta massa é um dos segredos das doceiras de Vimioso. Na realidade não se trata bem de uma massa, mas uma forma de forrar as formas com farinha e salpicos de água com várias repetições que, quando vão ao forno, solidificam como se de uma massa se tratasse. O recheio é um creme feito a partir de um ponto médio de açúcar, gemas de ovo e amêndoa. Mas o meu objetivo não é dar a receita. Vão comprar os que já são bem confecionados.

 

 

 

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Nesse dia liguei para a minha amiga Isabel Escudeiro que confirma as artes da sua Mãe a fazer estes pastéis e que, de facto, naquele tempo de chamavam de Lamego. Na Feira das Cantarinhas falei com Edite Domingues que me explicou que a receita está também na sua família e que se conhece a sua confeção desde 1918 data em que a famosa D.a Antoninha a terá trazido de Lamego. Fui tentar ver as heranças do Mosteiro das Chagas de Lamego, livro de José Sidónio Meneses da Silva, e não encontrei nenhum pastel idêntico. Por isso o meu texto inicial que não era só nos conventos que se adoçava a boca com requinte. As famílias abastadas das proximidades do Douro tinham muitos atributos de alto cozinha, e doçaria.

Sei que se vendem, pelo menos, em 3 locais em Vimioso:

Rosita – Rua Dr Sá Carneiro, 4

Café-Pizzaria Pires – Largo Mendes Rufino, 20

D.a Antoninha – Praça Eduardo Coelho, 9

Possivelmente haverá mais.

Vão a Vimioso por muitas razões, e agora também por este doce.

Bom Apetite!

© Virgílio Nogueiro Gomes

 

 

 

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As fotos agora publicadas são todas de D.a Antoninha