Quarta feira de Cinzas / Dia de São Valentim

 

 

 

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Este título parece estranho, mas deve-se à coincidência de calendário. Consequência dos tempos! Não fosse esta coincidência, possivelmente, não estaria eu a aproveitar-me dela para lembrar as tradições e como elas vão variando, outros chamar-lhe-ão de evolução para a modernidade, ou ainda melhor a forma como se vão diluindo algumas tradições.

Quarta feira de Cinzas tem uma ancestralidade associada à educação religiosa e com princípios de fé. A Quarta feira de Cinzas e a Sexta feira Santa são as duas datas mais importantes da Quaresma que deveriam levar os crentes cumprir jejum e abstinência alimentar. Ainda me lembro de ser prática generalizada, até pela educação recebida, de levar estes preceitos de origem religiosa, e cumprir à risca. Em tempos longínquos seriam os quarenta dias de abstinência da carne. Talvez por isso o termo carne tem qualquer coisa de pecaminoso! * Depois havia as “bulas” que se compravam para quem não queria, ou não podia cumprir com esses preceitos, mas também não quereria ficar em pecado.

 

São Valentim, mártir da Igreja, foi decapitado dia 14 de fevereiro de 270. Imperador Claudio II, para angariar membros para as forças militares, proibiu os casamentos para assim ficar com mais jovens disponíveis. São Valentim, bispo, ajudou os cristãos perseguidos e continuam a celebrar-lhes o casamento. O imperador manda prender o bispo e envia-o para o prefeito de Roma tendo sido enclausurado. A filha do seu carcereiro, cega, pede ao pai para visitar o bispo preso. Estabelecem uma grande aproximação, alguns autores escrevem que se apaixonaram, e no final ela recupera a visão, mas ele é decapitado. Seria o seu primeiro milagre! São Valentim ficou associado a atos de coragem e valentia e também aos aproximados pelo amor, os namorados. Em toda a Europa, passou a celebrar-se o dia de São Valentim como o dia dos Namorados, como se o amor precisasse de um dia para o seu começo. Fico-me reconhecendo a força comercial que este dia trás! Acontece que as propostas comerciais são muito variadas. Aquelas que olhei com mais cuidado e curiosidade são as sugestões de restaurantes. Todas apelando ao desenvolvimento da Gula, ou à luxúria da mesa. Ora, as propostas, que do ponto de vista imaginativo até são, na maioria, gastronomicamente agradáveis, remetem-nos para o consumo da carne! E como farão os namorados cristãos? Iniciam a Quaresma, ou adiam a celebração do amor?

 

 

 

 

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Aqui fica este pequeno texto de final de Carnaval, e com estes incidentes, ou coincidências, se corre o risco de ir perdendo tradições. Claro que há uma questão de fé, que eu não discuto. E agora, como na minha religião, leia-se prática de vida, não há pecados, celebro sempre que me apetece.

A vida é boa, comer bem nunca fez mal a ninguém, e a comida acompanhada com vinho saberá melhor. Celebrem sempre que a vida lhes sorria!

© Virgílio Nogueiro Gomes

* Frase incluída no livro que, Isabel Zibaia Rafael e eu, escrevemos em conjunto, e que dentro de poucas semanas irá aparecer nas livrarias. Fiquem atentos!