Memorial Padre Cícero

 

 

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Continuando com mais uma crónica da minha estada em Juazeiro do Norte, seria imperdoável não ter um texto centrado nessa figura incontestavelmente responsável por esta cidade que é a segunda do estado do Ceará. Para garantir a memória do Padre Cícero (1844-1934), a Prefeitura de Juazeiro do Norte mandou edificar um imóvel frente à Capela do Socorro, local onde está sepultado. Poderá relembrar relendo a crónica que anteriormente escrevi, devendo clicar aqui.

No edifício do Memorial Padre Cícero poderá ser estudada ou desenvolvida a sua biografia, bem como fazer pesquisas sobre a sua vida e impacto na região. O local também é destinado a efetuar palestras, existindo um excelente auditório com capacidade para trezentas e cinquenta pessoas. Dispõe ainda de uma biblioteca temática com vasto acervo, e um espaço de museu sobre o qual irei escrever e, em espaço contíguo, um local para exposições temporárias.

A iniciativa desde memorial deve-se ao Prefeito Manoel Salviano Sobrinho que encomendou a sua construção, para a memória de Padre Cícero, tendo sido inaugurado no dia 22 de julho de 1988 com a presença do Presidente do Brasil, José Sarney. O edifício foi projetado pelo arquiteto Jorge de Souza e a construção demorou dezoito meses. Segundo Abraão Batista o edifício lembra uma enorme tartaruga de concreto, armado e estilizado, simbolizando longevidade, eternidade e felicidade. Foram encomendadas também, em 1988, dez telas ao pintor e cenógrafo Marcus Jussier (1943-1997), sobre a vida do Padre Cícero que apresentarei em baixo, e que chegaram em 1994 para a celebração do sesquicentenário do seu nascimento. Em 1988 já este pintor tinha doado um retrato de grandes dimensões que se encontra exposto no local.

A frequência este espaço concentra-se especialmente nas datas das principais romarias: dia 2 de fevereiro - dia de Nossa Senhora das Candeias, dia 20 de julho - celebração na data de falecimento de Padre Cícero, dia 15 de setembro - dia de Nossa senhora das Dores e dia 2 de novembro -  dia de Finados, ou Fiéis Defuntos.

Sobre o espaço “museu” encontramos as famosas 10 telas do pintor Marcus Jussier que marcam a lógica da visita ao local pois a sequência cronológica da vida de padre Cícero é a forma de melhor visitar, e entender o seu percurso. Tive a sorte de fazer uma visita guiado por Claudinei de Paula com um discurso perfeito e bem claro.

Agora vou apresentar a sequência das 10 telas com legendas sucintas, e menção de objetos sob cada tela:

 

 

 

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O CAMINHO DE IDA – Desde criança, Cícero demonstrava interesse pela vida religiosa. Aos 12 anos, influenciado pela leitura da vida de São Francisco de Sales, fez votos de castidade. Na vitrine encontramos objetos do quotidiano, vendo-se um prato de servir em faiança, um invulgar bule de chá ou chocolate e uma máquina de costura

 

 

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O SEMINARISTA – No dia 30 de novembro de 1870, Cícero foi ordenado padre, no Seminário da Prainha, em Fortaleza. A solenidade foi presidida por Dom Luiz Antônio dos Santos, primeiro bispo do Ceará. Na vitrine uma preciosa forma de fazer e cortar hóstias.

 

 

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A PRIMEIRA MISSA – Na noite de Natal de 1871, Padre Cícero celebrou pela primeira vez no povoado de Tabuleiro Grande, localidade que mais tarde se transformaria em Juazeiro do Norte -

 

 

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O SONHO – Padre Cícero resolveu morar em Joaseiro por causa de um sonho, segundo o qual Jesus Cristo lhe apareceu, apontou para uma multidão de famintos e deu-lhe o seguinte recado: “Padre Cícero, tome conta deles!”

 

 

 

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O ÊXTASE – A fervorosa beata Maria de Araújo fazia jejuns e mortificações. Segundo relatos, ela entrava em êxtase e via o Sagrado Coração de Jesus, de quem recebia os “estigmas da paixão”.

 

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A HÓSTIA DE SANGUE – Na Capela de Nossa Senhora das Dores, por ocasião da missa celebrada pelo Padre Cícero, no dia 1 de março de 1889, aconteceu pela primeira vez, o fenômeno de hóstia transformada em sangue na boca da beata Maria de Araújo. Na vitrine uma fotografia de um dos panos que enxugou o “sangue”. Ainda peças de utilização litúrgica.

 

 

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O PROCESSO – Convocado pelo Bispo do Ceará, Dom José joaquim Vieira, no dia 17 de julho de 1891, Padre Cícero presta informações sobre o fenômeno de transformação de hóstia em sangue. Na vitrine, coleção de peças do quotidiano à mesa com algumas peças do famoso serviço francês.

 

 

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A INDEPENDÊNCIA – O movimento pró-independência de Joaseiro foi declarado no dia 7 de setembro de 1910, sob liderança de Floro Bartolomeu, José Marrocos, Padre Alencar Peixoto e outros. Início da atividade pública/política de Padre Cícero. Na vitrine conjunto de peças, talheres, de prata “portuguesa”.

 

 

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O ACORDO – Com a finalidade de assegurar a ordem e a paz, Padre Cícero, então Prefeito de Joaseiro, promoveu uma reunião com os chefes políticos do Cariri, ocasião em que foi assinado, por todos, um documento que ficou conhecido como o “Pacto de Paz”. Em outubro de 1911.

 

 

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O CAMINHO DE VOLTA – Padre Cícero esperou serenamente o dia de sua “passagem”.

 

 

As vitrines possuem variadas peças que podem refletir, ou estar relacionadas, com as fases da vida de Padre Cícero. Excelente espólio, de linguagem simples, e que se inserem na nova comunicação de património imaterial.

Dispõe ainda o Memorial de peças e trajes litúrgicos. Apresentarei apenas algumas outras peças para vos despertar a curiosidade, e provocar uma visita ao local.

 

 

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Conjunto de fotos de Padre Cícero

 

 

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Oratório com imagens de santos

 

 

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Curiosa caixa de música que inclui “Fado Liró”

 

 

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Detalhe de prato do serviço de mesa da vitrine nº 7

Confesso que alterei a opinião sobre o Padre Cícero depois de ter visitado todos os locais que lhe são dedicados. Mas foi fundamental ler os livros “Padre Cícero” de Annette Dumoulin, “Padre Cícero entre os Rumores e as Verdades” de Paulo Machado, e “Maria de Araújo, a Beata da Hóstia” de padre João Carlos Perini. Não é fácil mexer em questões de fé. Por isso não me pronuncio. Apenas manifesto um novo sentido de respeito pelo Padre Cícero.

© Virgílio Nogueiro Gomes