Buriti

 

 

 

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Bolinhas doces de buriti da Casa dos Licores em Viçosa do Ceará

Este nome parece-nos estranho. Para os brasileiros é bem conhecido como uma palmeira esguia que dá um fruto, uma bolinha castanha avermelhada e que tem o mesmo nome, e ainda de cujas folhas de faz uma espécie de fio moldável com muitos aproveitamentos. Claro que a minha curiosidade se voltou para o fruto e os doces a que dá origem.

Tomei contacto com buritis quando fiz uma viagem, fevereiro de 2013, expedição gulosa como lhe chamei, a Viçosa do Ceará e Sobral, com várias paragens em localidades nas quais havia, sempre, uma curiosidade, especialidade, gulosa. Podem ler a crónica onde aparece doce de buriti, clicando aqui.

 

 

 

 

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Lamentavelmente não tenho, ou não encontrei, fotos das famosas palmeiras. Utilizo as fotos das caixas onde se vende o doce para poderem visualizar a árvore o os frutos. Segundo Luiz da Câmara Cascudo, no “Dicionário do Folclore Brasileiro”, 1972, para buriti encontramos que há vinho e doce de buriti. Transcrição de Alfredo da Mata: Palmeira das espécies Mauritia vivifera Mart. Preparam com o macerato dos frutos saborosa bebida – o vinho de buriti, e também excelente doce. Incisões na espadice e talos libertam apreciável quantidade de seiva acre-doce. Buritizada é um doce da polpa do fruto, é rica em vitamina A.

 

 

 

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Arvore autóctone das regiões norte e centro da América do Sul especialmente Venezuela e Brasil, e que pode atingir até trinta metros de altura. Aqui a maior produção é de Amapá, Roraima, Rondônia, Amazonas, Pará, Maranhou e Piauí. Do Piauí são todas as imagens de caixas de doce de buriti que apresento. Supõe-se que atermo buriti tenha origem no vocábulo tupi mburi’ti.

 

 

 

 

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São muitas as utilizações do fruto e da árvore. Para além do consumo direto do fruto e aplicado em sumos, doces, sorvetes (picolé), licor, vinho e óleo. Este tem uso especial em cremes capilares, como filtro solar, sabonetes e outros de interesse dermatológico. É possível obter uns palmitos de excelente sabor e das folhas obtém-se uma fibra com utilização em artesanato ou peças decorativas. A sua madeira é ótima para mobiliário resistente, e até aplicada em madeiras de exterior.

 

 

 

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O produto mais apreciado é o doce de buriti. A sua receita varia de região para região apresentando, no entanto, muitas semelhanças. Genericamente o doce é confecionado a partir da junção de massa de buriti com açúcar. Depois é terminado ao lume onde engrossou, e depois embalado em pequenos retângulos de papel celofane ou película de plástico. A forma de cozedura irá determinar se o doce ficará mais claro ou mais escuro. No Piauí é sempre escuro. Por exemplo na Bahia, há uma localidade que homenageia o buriti e se chama Buritirana. Aqui à massa e açúcar juntam um pouco de água e no final fica o doce mais claro. No Piauí mistura-se bem a mesma quantidade de massa de buriti com açúcar. Fica em repouso durante dois dias dentro de panela com tampa. Fica ligeiramente aguado e é colocado em tacho de cobre que vai ao lume, mexendo sempre, com colher de pau, até que se veja o fundo do tacho. Está pronto! Agora é só descansar em moldes retangulares de madeira e depois embalar. As caixas de madeira onde o doce é apresentado são em adeira e de fabrico artesanal, sem pregos, com encaixes naturais.

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Em Fortaleza há, em permanência, três locais onde se vende sempre: Mercado Central, Mercado de S. Sebastião e Mercado Japonês. Poderá também ser encontrado noutros locais. Fiz este périplo com os meus amigos Walden Luiz (que me disse que no Ceará os sumos também podem ser chamados cambica) e Wagner Pereira. Também se pode encontrar sumo de buriti no Mercado Central apenas em certas épocas de chegada de buriti seco. Como podem ver na placa de sumos, o de buriti está sem preço porque não havia, com grande pena minha. O doce fotografado foi-me oferecido pela minha amiga Rosana Tajara, ilustre piauiense. Depois de já ter provado em Viçosa do Ceará, agora foi uma nova experiência e recomendo para barrar bolos pouco doces, ou em pequenos cubos para acompanhar café.

Sabor que não se esquece!

© Virgílio Nogueiro Gomes

 

 

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