25, dia de Maracatu

Em boa hora a Prefeitura de Fortaleza instituiu do dia 25 de cada mês como o Dia do Maracatu pela lei municipal nº 5.827/84, data na qual se celebra o centésimo aniversário da libertação de escravos no Ceará. Mais recentemente o dia 25 de cada mês passou a poder assistir ao desfilar de pelo menos um Maracatu. Em cada mês um local diferente que permite a toda a população poder assistir, ou envolver-se, nesta manifestação que é, de facto, um reflexo histórico e, portanto, de Cultura.

Costumo afirmar que não há coincidências. Hoje, dia 25 de março de 2017, quando me dirigia a minha casa para escrever esta crónica, ouço a nossa saudosa e insubstituível Amália Rodrigues a cantar “Calunga”. Apesar de já conhecer esta música, nunca me tinha fixado na sua letra desta. E Amália lá cantava De São Paulo de Luanda / Me trouxeram para cá/ É Calunga, Calunga…. Minha mãe chorava/ Ai é Calunga / Eu cantava Calunga ai é/ Maracatu, Maracatu minha Calunga… Já tive oportunidade de escrever sobre Calunga essa divindade pouco esclarecida e pouco cultuada. É possivelmente Calunga o princípio religioso do Maracatu. Não sei se na sua fundação dos maracatus, a Calunga seria o primeiro elemento religioso, papel importante de contacto com outras entidades ou seres do Além, pois a presença dos Orixás seria provavelmente mais ostensiva e de muita visibilidade! Para mim, Calunga continua a ser o símbolo discreto da religiosidade mal-assumida. Claro que os Orixás têm outra visibilidade, bem como a ala de terreiro cada vez com mais participantes.

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Calunga no Museu do Ceará, Fortaleza

Há dez anos que tenho vindo a registar com imagens, escrito alguns relatos ou crónicas, já desfilei três anos em Maracatu e, tenho que confessar a evolução dos grupos em criatividade, luxo das fantasias e melhoria do desfile enquanto espetáculo.

Já escrevi sobre as personagens que são alvo de votação para a classificação final, como o Porta-estandarte, O Balaieiro e a Rainha. Há, no entanto, outras figuras individuais que completam o entendimento histórico da Maracatu. Participavam nos desfiles na primeira metade do século XX e vão desparecendo. E eu penso que enriqueciam o desfile ou completavam o grupo.

 

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Calunga entre presas de animal em Angola

Nesta crónica vou assinalar as figurações individuais que alguns maracatus ainda apresentam, mas que não são participações obrigatórias do desfile. Porque não haver uma nota para os maracatus mais completos? Ou saber por que estão desaparecendo estes elementos!

BALIZA. Segundo Sérgio Pires, 2004, descreve-o com: Abre o desfile, marcando o passo ao lado do porta-estandarte. Com fantasia de cetim nas cores oficiais do seu maracatu, sapato fanabor, turbante e a baliza entre os dedos, não faz evoluções como os balizas dos blocos e cordões. Pingo de Fortaleza, 2007, … De cara pintada, de uma mistura resultante de fuligem de lamparina e vaselina (como todos ou outros membros do maracatu), desfila de turbante com uma fantasia composta de meia-calça com elástico nas pontas e camisa balão de mangas, além de sapatilhas e meias longas. Sua fantasia é de cetim brilhante e muito colorida. O Baliza é como se fosse o  anunciante do Maracatu. Dançava, por vezes, a paracer passos de capoeira.

Apesar de não ser figura obrigatória, alguns mantêm a tradição e apresentam os seus Balizas:

 

 

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Maracatu Nação Palmares

 

 

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Maracatu Axé de Oxóssi

 

 

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Maracatu Filhos de Iemanjá

 

 

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Maracatu Nação Pici

 

 

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Maracatu Vozes de África

 

 

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Maracatu Rei de Paus
Pai e filho

 

 

 

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Maracatu Az de Ouro

Este ano o desfile revelou-se mais eficiente e com maior qualidade até para o conforto do público que aguarda o espetáculo. Seguramente que o novo Secretário da Cultura de Fortaleza irá garantir melhoras para este emblema cultural da cidade. Apetece-me perguntar: para quando um Memorial do Maracatu de Fortaleza?

Voltarei brevemente com mais matérias sobre o Carnaval de Fortaleza.

© Virgílio Nogueiro Gomes