Pastel de Ginja

 

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(Pastéis de Ginja)

A ginja faz parte das minhas memórias de infância e enquanto vivi em Trás-os-Montes sempre tive o prazer de comer. Curiosamente até para lanchar acompanhada de uma fatia de pão centeio. Depois perdi o hábito forçado por viver em locais onde a ginja tinha mais dificuldade em aparecer. Mas agora, sempre que a encontro no mercado, dou-lhe preferência. Recordo-me ainda que a ginja também era chamada de cereja preta ou cereja ácida. Ora este último atributo, a acidez, levava a que a maior parte da sua produção fosse destinada à transformação em compota ou em licor.

 

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(Pastel de Ginja e o licor Ginjeira)

Os autores destas matérias são unânimes em atribuir a sua origem ao Mar Negro e que terão sido os romanos a expandir a sua produção, havendo referências no Inglaterra já no século I e em Portugal encontramos registos no século XV muito embora já devesse existir mas o seu consumo não seria expressivo. Certo é que aquando do terramoto de Lisboa em 1755 já havia em Lisboa vários estabelecimentos que vendiam ginjas mergulhadas em aguardente e que seguramente deram origem à ginjinha. Mas sobre a ginja temos o imperdível livro de Paulo Moreiras “Elogio da Ginja”, Editora Quidnovi 2006 que devemos ter sempre à mão.

 

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(Ginjeira, o licor de ginja usado no pastel)

A ginjinha transformou-se num cartaz de atrativos especialmente em Óbidos e Lisboa. Se em Óbidos é um consumo obrigatório para turistas, em Lisboa a ginjinha é também um produto de consumo dos locais e grande chamamento para turistas. Há verdadeiros pontos de grande consumo que alegra as ruas pois os estabelecimentos são demasiado pequenos para tantos consumidores. Ana Marques Pereira, no seu livro “Licores de Portugal”, 2013 escreveu sobre a ginjinha e identifica, para uma Rota das Ginjinhas de Lisboa, 15 estabelecimentos especiais e mais 5 quiosques de venda de ginjinha.

 

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(O Pastel de Ginja)

Ora o pastel sobre o qual irei escrever é um pastel feito com o licor de ginja e que resulta de uma parceria entre a licorista Lima Fortuna e o mestre pasteleiro Nuno Gil da Pastelaria S. Julião em Palmela. Nuno Gil tem-se dedicado à criação de doçaria com elementos endógenos da região. É vasta a sua lista de elogios doces a produtos locais desde o Moscatel de Setúbal, à Laranja doce de Setúbal, ao Queijo de Azeitão e a tantos mais produtos que vos aconselho a descobrir. Foi agora a vez do Pastel de Ginja com o licor de ginja Ginjeira. Como poderão ver pelas fotos trata-se de um pequeno pastel constituído por uma massa firme, mas delicada, exterior e depois o recheio no qual se pode sentir a amêndoa e particularmente o sabor da ginja. Da lista de ingredientes consta: farinha, gema de ovo, amêndoa, farinha de trigo, licor de ginja e banha de porco. De acordo com Nuno Gil, quando chegar a época da ginja irá experimentar uma segunda versão deste com a inclusão, no recheio, de pedaços da fruta. Ficamos a aguardar! Mas Nuno Gil não faz só novos doces. É um defensor bravo das tradições locais e basta ver o seu entusiasmo em relação às famosas Fogaças de Palmela.

 

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(O Pastel de Ginja aberto vendo-se a fina caixa e a cremosidade do recheio)

Este pastel possui uma embalagem idêntica à das criações recentes de Nuno Gil, com grafismo de qualidade e que permite o seu fácil transporte. Para todos os pastéis há sempre uma nota histórica em relação ao seu produto, ou às suas tradições. Apetece propor uma rota doceira na região de Setúbal e Palmela. Eu sei que há vários estabelecimentos em Lisboa que também já vendem estes doces.

Bom apetite! E lembrem-se que o doce nunca amargou.

© Virgílio Nogueiro Gomes

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