Afoxé Oxum Odolá

Fortaleza

 

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Porta-estandarte

Genericamente podemos dizer que Afoxé é uma festa de rua de um terreiro de Candomblé. Segundo Câmara Cascudo, no seu Dicionário do Folclore Brasileiro, 1954, define assim: Rancho negro do carnaval. Os negros se trajam principescamente e cantam canções em língua africana, geralmente de nagô. Esta definição simplista está um pouco desfasada da realidade atual. Vários autores se têm debruçado sobre esta manifestação cultural e em Fortaleza é já um capítulo importante nas atividades carnavalescas tendo dia próprio para desfile e competição associada. Segundo Raul Lody, Afoxé é “candomblé de rua”. Cada Afoxé está dedicado a um Orixá e tem regras de desfile relacionadas com a prática de cada terreiro. A sua definição poderá ser mais alargada e é um cortejo de rua que sai durante o carnaval. Trata-se de uma manifestação afro-brasileira com raízes no povo iorubá, em que seus integrantes são em grande número vinculados a um terreiro de candomblé. O termo afoxé provém da língua iorubá. É composto por três termos: a, prefixo nominal; fo, significa dizer, pronunciar; xé, significa realizar-se. Segundo Antonio Risério, afoxé quer dizer o enunciado que faz acontecer.

 

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Oxum e Mãe de Santo

Desta vez vou escrever sobre o Afoxé Oxum Odolá no qual me integrei para o desfile deste dia 17 de fevereiro de 2015. Oxum é o Orixá sobre o qual já escrevi e que podem reler aqui.

 

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Pálio que honrava OXUM e Mãe de Santo

Para isso vou transcrever a toada cantada deste ano com composição de Cumpadre Barbosa e Fernando Neri:

ODUS: Caminhos da Vida

Adivinha ê

O que vim fazer aqui?

Vim fazer festa

Pro meu Orixá de Ori

Toca o atabaque

Chia o Xequerê

Vamos dançar iaia

Nas águas de Oxalá

Rosa amarela

Vai na cesta de Oxum

Nossos pedidos

Na panela de Yemanjá

Acarajé

Agente leva pra Yansã

Faz reverência pra IYa-mi Osorongá

Mamãe Oxum

Foi se banhar na cachoeira

Um abebê a refletir rara beleza

Tão graciosa que só ela

Enfeitiçou Exu

Para os segredos conhecer

Jogo de búzios

Os mistérios de Ifá

São 16 Odus

Neste batuque Ijexá

O axé do afoxé agô Ilê

É linda a nossa Yalodê

Oxum Ybuaniá

Ora yeyê ô

Ora yeyê a

Oxum Odolá chegou!

 

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Parte da bateria que se abrigava enquanto chovia

Para aqueles que naturalmente terão dificuldade em entender algumas palavras, aqui vai um pequeno glossário dos termos sublinhados: Abebé, espelho; Acarajé, iguaria da culinária áfrica sobre a qual escreverei mais em baixo; Agô, licença ou perdão; Atabaques, tambores tradicionalmente com peles de animais; Axé, saudação, força vital e espiritual, energia positiva, poder, amém; Exu, divindade que é considerada o intermediário entre o céu e a terra. Dono das encruzilhadas; Ifá, divindade da adivinhação; Ijexá, toque tradicional para Oxum; Ilê, casa, terreiro, lar, terra; Iya-mi Osorongá, feiticeira; Jogo de Búzios, processo de adivinhação de origem africana no qual o sacerdote, através dos búzios faz previsões sobre o destino do consulente; Odu, espécie de signo que rege a existência de uma pessoa durante a vida; Ora Ye Yê, saudação a Oxum; Ori, cabeça de uma pessoa; Orixá, divindades ligadas aos elementos e forças da natureza; Oxalá, divindade da criação, pai de todos os orixás; Oxum, divindade vaidosa e faceira dos rios, fontes e cachoeiras. Personifica a beleza, o charme. Adora o luxo, a riqueza, os belos tecidos e o ouro; Xequeré, chocalho feito com contas e cabaça; Yansâ, senhora dos ventos, do ar e das tempestades; Yemanjá, agrande mãe, poderosa rainha das águas salgadas.

 

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Yansã

A organização do desfile, como atrás referi, tem regras e cerimonial. Primeiro tem que ter um Orixá votivo que neste caso é Oxum, e utiliza maioritariamente as cores tradicionais deste orixá: amarelo e dourado. Antes do início é hábito satisfazer Exu, jogando a sua comida preferida, Padê, no chão pois a terra também come: farofa, óleo de dendê, pimenta malagueta, cebola às rodelas e sal.

Inicia o cortejo com o estandarte e seu portador que dança ao ritmo da toada. Figura principal é o Orixá Oxum, coberto por pálio e acompanhado por Mãe de Santo. Seguem-se outros orixás: Exu, Oxalá, Nanã, Oxumaré, Ogum, Oxóssi, Xangô, Yansã…

Constituem ainda o cortejo, a bateria onde os instrumentos principais são os atabaques, xequerés e agogos (instrumento metálico com duas campânulas que emitem sons distintos produzidos pelo toque de vareta de madeira).

 

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Levando no barco Yemanjá

Outros grupos importantes são a ala de Capoeira, o Povo de terreiro, o Povo Africano e as Baianas que carregavam à cabeças os bolinhos de Acarajé com Camarão e Pimenta Picante.

Uma explicação se deve desde já é a coleção de fotos, por mim executadas, e como membros de uma das alas não poderia com eficácia fazer as fotos com o grupo em andamento. Por outro lado aconteceu o inesperado. A hora que antecedeu o início do desfile, choveu com insistência, pelo que não era possível organizar o desfile e fotografar.

 

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Oxumaré e Nanã

 

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Ogum

 

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EXU

 

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Xangô

 

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Ala de Capoeira

 

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Parte do Povo Africano antes do desfile

 

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Cesto com Acarajés levados à cabeça pelas Baianas

 

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Eu próprio enquanto ainda chovia

Falta-me referir ainda a importância do Acarajé tanto na sua utilização nos rituais de candomblé, quanto como elemento de identidade cultural das regiões do Nordeste, até para fins turísticos. Reconheço a sua predominância na Bahia. Mas é um elemento comum de terreiro. Já em outras oportunidades escrevi sobre a importância de utilização de alimentos nos cultos religiosos. Os alimentos são uma forma de linguagem simples e direta que o povo pode oferecer e dessa forma comunicar com as entidades inatingíveis. É também uma forma de fazer pedidos ou cumprir promessas. O acarajé, é um bolinho feiro a partir de um puré de feijão fradinho depois de se lhe retirar a pele. Para o puré era sempre o feijão ralado em pedra. Hoje em dia usa-se uma panela, e uma colher de madeira até que o puré se apresente como uma massa uniforme. Só depois se adiciona cebola picada e sal fino. Frita-se em óleo de dendê e depois recheia-se com um molho preparado com pimenta malagueta, cebola e camarões. Antigamente, e ainda em alguns locais, fazia-se este molho, agora muitas vezes é servido o camarão inteiro (pequeno e por vezes seco), cebola picada e a insubstituível pimenta malagueta.

Muito Axé para todos!

Obrigado PAI WAGNER!

 

 

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Adriana e o seu famoso acarajé em apresentação recente no Dragão do Mar, Fortaleza

 

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Acarajé da Adriana

© Virgílio Nogueiro Gomes