Título: Cozinha Económica Em Portugal
Autor: Armando Fernandes
Editor: Montepio Geral – Associação Mutualista
Há algum tempo que esperava por esta edição. O autor, de quem me prezo ser amigo, já me tinha falado da obra. Tinha desenvolvido uma certa expectativa, não que duvidasse da qualidade do conteúdo, para conhecer a forma como seria apresentada esta questão que parecia a comida dos pobres. Historicamente sabemos que era a maior dimensão alimentar enganada no ensino pela aprendizagem da comida palaciana da qual existiam registos.
Este livro, que parece dois em um, tem quatro partes das quais a primeira e a segunda são um excelente contributo para a história da alimentação em Portugal. Na primeira “A Economia na Cozinha Através dos Tempos” é um viajar pela evolução da humanidade com evidência para o seu tipo de comida e as novidades que revolucionaram os seus tempos. Depois, em cada época, as refeições ou os alimentos surgem-nos na especial vertente sociológica associada muitas vezes a integração dos hábitos com as mentalidades da época. Ora são estes textos, que são raros nas edições atuais da comida é que fazem a grande mais-valia do livro. Muitas edições, quantas vezes só tratam da alimentação na perspetiva da moda? E tantas vezes modas que levam à extinção das identidades regionais. Na segunda parte “Cozinhas Económicas em Portugal”, um estudo meticuloso sobre soluções de caracter público e de resolução, assistencial, para resolução da carência alimentar em algumas camadas da população portuguesa. Especial referência para as Misericórdias e outras instituições cuja função foram as de alimentar desprotegidos e ou empobrecidos.
A terceira parte tem “Testemunhos e Opiniões” e a quarta “Receitas”.
Atendendo à qualidade do conteúdo e o resultada investigação séria e oportuna, apetece perguntar ao Editor, Montepio Geral, por que não fazer uma edição de custos mais reduzidos para poder entrar no mercado livreiro? Este tipo de estudos interessam a todas as escolas onde se faz um esforço para ensinar história da alimentação e ainda em todas os locais de ensino da área alimentar, e em especial os cozinheiros. Por outro lado, e invocando André Malraux sobre a democratização da cultura, a cultura deve poder chegar a todos. Por isso, devemos contribuir para criar instrumentos, livros, de fácil acesso para melhorar o nível cultural de, pelo menos, os que intervêm no grande processo da alimentação.
Este livro deveria marcar presença obrigatória em todas as escolas ou em casa de todos os que se interessam por alimentação. Parabéns ao autor por esta investigação cuidada e valorosa.
Edição de luxo, com grafismo e fotografias de qualidade.
© Virgílio Nogueiro Gomes