Comer com o Diabo…

Este título parece estranho. Escrevo esta crónica inspirado pelo livro Le jour où j’ai déjeuné avec le Diable, escrito por Fouad Laroui, editora Zellide, França, 2012. Do mesmo autor também já li Une année chez les Français, Pocket 2010, e Méditations marocaines, Zellige, 2018. O autor é de origem marroquina e atualmente é professor de literatura francesa na Holanda.

O livro sobre o qual agora escrevo é constituído por crónicas, e a que deu título ao livro, e a única que tem uma ilustração que é um menu de 16 de abril de 2007. Logo na primeira página, que traduzo, pode ler-se: “Aconteceu-me algo estranho na semana passada. Dei-me conta, dois anos após o facto, que almocei com o Diabo em 16 de abril de 2007…”

 

 

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Capa do livro

 

Começo por esclarecer que, da minha parte, o título ou o conteúdo da crónica de Fouad Laroui, não tem qualquer tipo de conexão com opções políticas. Os que me leem há alguns sabem o meu gosto por este país tão próximo que é Marrocos, onde me deslocam frequentemente pelo clima e pela cultura. A escolha desta crónica prende-se especialmente pelo menu que é a única ilustração do livro em causa, e é Fouad Laroui que legendou o menu: “Le menu du Diable…” conforme pode ver na imagem.

Vamos então ao menu:

Luncheon

Almoço

Spring Salad

Salada da primavera

Poached Salmon

Salmão escalfado

Fresh Fruit

Fruta Fresca

Or / Ou

Lemon Mousse with Berries

Mousse de limão com Bagas vermelhas

No menu ainda se pode ler que foi oferecido pelo Embaixador Roland Arnall, em Haia.

 

 

 

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MENU

Do ponto de vista gastronómico não teria sido uma refeição de excelência, simples e desde que tenha sido bem confecionada é o que importa. O pretexto do almoço terá sido conversar sobre o livro De l’islamisme, do autor e convidado. O anfitrião queria saber, para entender melhor, como seria possível promover o islamismo moderado nos países árabes. O autor escreveu: “fiz-lhe uma exposição sobre o assunto, enquanto ele se alimentava frugalmente.”

Depois do almoço a esposa do embaixador foi tomar café com eles e mostrou-lhes o que trouxe dos Estados Unidos: “aves, cães e especialmente um gato com uma assombrosa elegância.” O embaixador acompanhou-o à porto fazendo-lhe um convite para organizar umas conferências no Estados Unidos, tendo-lhe colocado à disposição o seu avião privado, tendo escrito: “foi nesse momento que me dei conta que este homem era muito rico.” Infelizmente nada aconteceu, pois, o embaixador foi acometido por um cancro tendo falecido rapidamente.

Mais tarde lê na imprensa uma descrição sobre o passado do embaixador, pouco elegante e acusado e ameaçado de desvendar os seus verdadeiros intentos. O autor, incrédulo que o descreviam como o “diabo”. E termina a crónica: “qualquer homem nunca é inteiramente bom ou mau. Mesmo o Diabo pode ter os seus lados bons.

A mousse de limão era excelente.”

Um texto diferente sobre a forma como uma simples refeição pode adquirir vertentes que vão para além da comida.

Bom Apetite!

Virgílio Nogueiro Gomes