Pastéis da Fidalga
Estes pastéis são divulgados como “Doce típico do Seixal” e ainda com a seguinte frase: A lenda de uma paixão proibida que virou doce. Gostei da evocação e gostei do doce que me surgiu inesperadamente, em grande surpresa, e por encanto. Por isso lhe dedico esta crónica.
Antes de ir ao doce vamos à lenda. Consta que a Quinta da Fidalga era chamada anteriormente de Quinta do Vale do Grou. No século XIX foi ali enclausurada uma das filhas da casa, D. Maria Bernardina da Gama Lobo de Saldanha e Sousa, por teimar em namorar com Bento de França Pinto Oliveira, conhecido por ser um liberal, boémio e filho 3º, portanto sem herança. A família conservadora não aceitou esta elação e resolver enviar a fidalga para a sua quinta no Seixal. Apesar do seu apaixonado se disfarçar de mendigo e atravessar o rio de barco a remos para ir visitá-la, aquele amor era contrariado pela janela de grades que dava sobre o rio e a intolerância da família. Infeliz passava os dias triste e angustiada com esta distância. *
Pastel colocado em redoma de vidro para simbolizar o enclausuramento
Naquele tempo parece ter trabalhado naquela cas uma doceira com habilidades reconhecia na doçaria. A quinta produzia excelentes produtos agrícolas e a cozinha poderia dedicar-se a valorizar estes produtos em verdadeiros festins à mesa. Parece que a essa doceira se conhecia a sua bondade e apego à “sua” menina enclausurada. Cansada e penosa por ver a jovem tão desgostosa, decidir criar um doce que pudesse alegrar tanto sofrimento. Apenas com ovos, amêndoa, açúcar e alguns detalhes que nunca terá divulgado prepara os pastéis saídos do forno que passou a chamar “da Fidalga”. São este os doces que vos apresento.
É uma história com duplo final feliz. Duplo porque o começo é uma criação excelente de um doce muito bom, a segunda é que a “Fidalga” comendo os doces alimentou a esperança de um dia encontrar o seu amado, o que aconteceu em 1876 com o casamento, e foram felizes para sempre!
Como se pode ver pela foto os pastéis são constituídos por uma massa fina recheada, completa por um creme com gemas, amêndoas finas e açúcar. A massa externa é tão fina quanto a dos Pastéis de Vimioso. Segredos... se os há não se divulgam! Mas para mim o principal segredo é a “mão” para a execução ou perfeição culinária, doceira. Estes pastéis são uma criação da Chefe Dina Oliveira. E para serem bons não precisam de ser chamados de conventuais. Bons e muito gulosos.
© Virgílio Nogueiro Gomes
*Transcrição do folheto publicitário
Pastéis da Fidalga vendem-se:
Lisboa à Vista
Praça 1º de Maio - Seixal
100 Peneiras
Rua Paiva Coelho, 127 - Seixal
ACQUA Seixal
Rua Dom Nuno Álvares Pereira, 93 - Seixal