Nêsperas

 

 

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As nêsperas parecem umas frutas mal-amadas dos restaurantes; melhor os clientes parece não as quererem consumir nos restaurantes. Porquê? Pela dificuldade em usar os talheres? Por não as saberem comer com elegância? O melhor talher para as nêsperas são as mãos. Sim, há alimentos que se devem consumir à mão e, conforme a categoria do restaurante, colocam lava mãos na mesa ou, modernamente, fornecem toalhitas refrescantes habitualmente com cheiro de limão. Apesar destas soluções para não criar constrangimentos aos clientes confirma-se uma certa relutância em os restaurantes as incluírem até na “fruta da época”, matéria sobre a qual já escrevi e podem reler clicando aqui. Estamos na época das nêsperas e se as primeiras a aparecerem são de um preço ligeiramente elevado, quando a primavera nos fornece o calor de quase verão, o seu preço é mais convidativo.

 

 

 

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Segundo José Pedro Machado, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, 2003, o termo nêspera aparece apenas no século XVI. Há, no entanto, o termo nespereira que já se encontra escrito em 954, em latim. Alexandre Dumas, no seu Grand dictionnaire de cuisine, 1870, refere-se, curiosamente, a nêsperas como a fruta de S. Lucas porque se colhe na época da sua festividade a 18 de outubro. Depois aconselha a comer cruas ou em doce, dando uma receita de Compota. Também Maria de Lourdes Modesto na Grande Enciclopédia da Cozinha, 1960, sugere que ... só deve ser comida quando bem madura, porque só assim apresenta um sabor doce e agradável e proporciona ao organismo a assimilação dos sais e açúcar que contém... São geralmente frutos de sobremesa e comem-se crus, mas utilizam-se também na preparação de compotas, marmeladas, doces, etc. Apresenta ainda uma receita de Doce de Nêsperas e outra para um Bolo de Nêsperas.

 

 

 

 

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Outros autores como Maria Lucia Gomensoro ou Claudio Fornari recomendam que a fruta se come fresca, mas madura. Já Marcia Algranti no Pequeno Dicionário da Gula, 2004, informa que as nêsperas fornecem hidratos de carbono, sais minerais, e vitamina A e C, e complexo B ... por sua cor amarelo alaranjada, e seu aspeto de pequenina pera, é de grande efeito decorativo .... É também apreciada em compotas e como doce.

 

 

 

 

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A nespereira é oriunda do oriente e especialmente do Japão. Sabemos que era cultivada na Assíria e na Babilónia e supõe-se que chegou a Inglaterra através dos romanos. Já está representada em mosaicos em Pompeia e tendo chegado à Grécia sete séculos a. C. só há notícias da árvore em Roma 200 a. C. Segundo Gil Felippe, no livro Frutas – Sabor à Primeira Dentada, 2005, també era usada como planta ornamental e obrigatória nos jardins de Carlos Magno (768-841). Pouco se sabe sobre a sua chegada a Portugal. Há quem defenda que os árabes que povoaram parte do território que é hoje Portugal já a teriam plantado. Possivelmente foi trazida do oriente, e depois levada para outros territórios administrados pelos portugueses designadamente para o Brasil sendo comum no estado de S. Paulo, onde também é conhecido o fruto por ameixa-amarela. Os três principais países exportadores são o Japão, Israel e o Brasil.

 

 

 

 

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Peladas e prontas para comer

 

Pois aí temos as nêsperas, fruto amarelado, em forma de pera, pelo ligeiramente rígida e ácida, com três a cinco caroços. Como também é rica em pectina é comum fazerem-se ótimas geleias. Quando eram miúdos guardávamos os caroços para brincar e fazer algumas maldades...!

Comam fruta pela vossa saúde. E aproveitem na época naturalmente produzida. Percam a timidez de a pedirem nos restaurantes. As nêsperas das fotos são portuguesas e adquiridas durante este mês de abril de 2018.

© Virgílio Nogueiro Gomes

 

 

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