Museu dos Coches

 

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O Museu dos Coches Reais, instalado inicialmente no Picadeiro Real do Palácio de Belém, foi inaugurado em 23 de Maio de 1905 pela Rainha Dona Amélia que foi sua grande impulsionadora. Após a instalação da República passou a designar-se por Museu Nacional do Coches, que ainda se mantem, e a sua coleção foi sempre aumentada. Ainda me lembro do sucesso que o coche “A Coroação Lisboa” fez durante a Europália 1991 em Bruxelas que parecia disputar, a atenção dos visitantes, com a mostra da baixela Germain.

 

 

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Coche da Coroação de Lisboa

O motivo desta crónica é desafiar-vos a visitar o museu, agora em novo edifício no qual os coches, as berlindas, os coupés, as cadeirinhas, as calèches, os carrinhos de passeio, as carruagens, o charabã, os clarences, os phaetons, os landaus, as liteiras, os mala-postas, os milords, as seges e as vitórias adquirem outra dimensão pelo espaço claro e despojado que dá à coleção uma visibilidade que outrora não tinha. Invulgar coleção de fazer inveja a muitos outros museus. Seguramente esta é a maior coleção e mais completa do género, no mundo, da qual nos devemos orgulhar.

Claro que tenho as minhas viaturas prediletas e que me fazem viajar pelo imaginário alimentar. Muitas delas fizeram percursos durante os quais se fariam paragens para se alimentarem ou, quem sabe, também dentro de algumas viaturas se poderia comer. Para esta crónica selecionei dois coches: mais antigo, o Coche Filipe II, trazido de Madrid pelo rei na sua visita a Lisboa; e o emblemático Coche da Mesa, utilizado na cerimónia da troca de Princesas, na fronteira entre Portugal e Espanha sobre o rio Caia. As razões não foram a sua imponência nem qualquer critério de estética. Simplesmente associá-los a situações alimentares.

 

 

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Coche de Filipe II

O Coche de Filipe II (III de Espanha) foi utilizado em 1619 quando o rei visitou Lisboa. Ora, o seu antecessor também visitou Lisboa e, curiosamente, tiveram ao seu serviço um mesmo chefe de cozinha, Francesco Martinez Montiño que publicou em 1611 o livro “Arte de Cocina…” que é o primeiro livro que inclui receitas com a designação à portuguesa. Este facto deve-se seguramente à primeira viagem do um rei de Espanha a Portugal. Terá aprendido as receitas durante a primeira estadia em Lisboa? As receitas a que ele chama de à portuguesa são: Una ave à la Portuguesa, Arroz à la Portuguesa, Espinacas à la Portuguesa, Sopas à la Portuguesa e Sopa de vaca à la Portuguesa. Para além destas receitas também podemos encontrar outras, que surgem semelhantes no caderno de receitas da Infanta D. Maria, e que possivelmente conheceu durante a estadia em Lisboa como por exemplo: Gallina rellena en alfitete, Otra ave en alfitete, Gallina mourisca, Manjar blanco, e mais algumas. Curioso que neste livro é usada a mesma designação, para o que é hoje o “Cozido à Portuguesa”, que utiliza Domingos Rodrigues no primeiro livro português de receitas, “Arte de Cozinha”, 1680, Olla Podrida.

 

 

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Coche da Mesa

O outro coche predileto é o Coche da Mesa. Utilizado para transportar a Princesa Dona Maria Bárbara, filha de D. João V para casar com o herdeiro da cora de Espanha, D. Fernando VI, e no regresso transportar a Infanta de Espanha Dona Mariana Vitória, filha de D. Filipe V, para casar com o herdeiro da Coroa Portuguesa e futuro D. José I. O encontro deu-se sobre o rio Caia, 1729, e nessa mesa, quem sabe, poderia ter sido saboreada uma fatia de “Sericá”, que mais tarde passou a chamar-se Sericaia. Consta que a receita deste doce terá sido trazido para Portugal por D. Constantino de Bragança, 7º Vice-Rei da Índia e familiar dos antepassados da Princesa Dona Maria Bárbara. É desta data, 1729 que conhecemos a primeira receita de “Pastelinhos de Natta” do Convento de Sta Clara, de Évora. Mas se lembramos D. João V temos o Mosteiro Palácio de Mafra onde temos registos da festa de Santo António ou de Santo Agostinho, que Manuel J. Gandara escreveu, no livro “Sabores, Cheiros e Comeres Regionais de Mafra que sempre que a Comunidade de Mafra comia pastéis de nata consumia: natas – 300; ovos – 61 dúzias; açúcar – 56 arráteis. Ainda lembrando D. João V não poderemos esquecer os doces do Mosteiro de Odivelas onde pontuavam também pastéis de nata e a inesquecível marmelada branca que, eventualmente, poderá ter feito a viagem até Caia e ser consumida como energético que era nessa altura.

 

 

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Montra do Café Cavalo Lusitano

Mas o museu ficou agora ainda mais enriquecido com a abertura ao público da Cafetaria Cavalo Lusitano. Com uma localização privilegiada, toda envidraçada e virada para a praça e Jardim Afonso de Albuquerque, apresenta muitas tradições alimentares portuguesas e outras sugestões com um toque de modernidade capaz de provocar a fidelização da clientela lisboeta para além dos turistas que por ali passam. Também é possível almoçar com propostas culinárias portuguesas.

© Virgílio Nogueiro Gomes

 

 

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Vista geral do Café Cavalo Lusitano