aromas e temperos
Não é meu hábito escrever sobre um restaurante que acaba de abrir. Parece, portanto, tratar-se de um caso especial. E é. A sua chefe de cozinha é Juliana Magalhães Adjafre, de origem brasileira, com provas dadas na Fanor, Fortaleza, e depois fez o mestrado, em Lisboa, em Ciências Gastronómicas. E o que tem de especial? A sua capacidade de execução, ela é dos chefes que cozinham, e que passa a maior parte do tempo na cozinha, a sua determinação, a facilidade de criar equipas ou trabalhar em grupo, a exigência de conhecer bem os produtos e a cautela de os misturar. De certeza que os seus amigos do Nordeste que tanto a apreciam, ficarão com vontade de atravessar o Atlântico para degustar a sua comida.
A chefe de cozinha Juliana Magalhães Adjafre explicando os pratos.
O restaurante abriu há poucos dias, e tem propostas que se poderiam chamar Brasil e Portugal à mesa. A delicadeza da fusão ensaiada revela pratos quase novos sem fazer roturas em nenhum deles. Mesmo a designação dos pratos, por vezes mais poética, não lhes retira o prestígio.
Vejamos a refeição que fiz:
Placas de polvilho e Pão de queijo da Ilha.
Polvilho é um pó muito fino que se obtém do resíduo da mandioca ralada. Aqui as placas estavam finíssimas e eu, que não sou de comer pão e manteiga antes da refeição, deliciei-me. Depois o pão de queijo, emblema de Minas Gerais, aqui feito com queijo Ilha.
Manteiga de alho e Azeite com picante.
Crocante da Ilha com geleia de pera Rocha e clementina e malagueta.
Excelente a mistura da geleia com a fritura do queijo.
O meu pastel de bacalhau com azeite de dendê e molho de coco.
Apetece-me chamar-lhe de pastelzinho pelo forma e o recheio de fazer inveja a muitos pastéis de bacalhau, com a ajuda do azeite de dendê e o molho de coco de saudades baianas.
Caldinho de peixe com tiras de pão alentejano e farofa de mandioca.
Caldinho bem português a parecer sair de uma caldeirada, pedaços de peixe no copo, com a farofa de mandioca a dar-lhe um complemento eficaz.
Bobo de camarão com farofa de broa de milho.
De novo a Bahia com um dos seus pratos mais emblemáticos, a broa portuguesa a fazer-lhe boa companhia.
Bolinhos de tapioca com doce de leite, canela, raspas de lima e flor de sal.
De novo na Bahia, com os tradicionais bolinhos de estudante, com um doce de leite, neste caso sem leite condensado.
Amarelinho com redução de Ginja.
A fechar com um delicioso quindim, melhor exemplo da fusão desenvolvida pelos portugueses, e aqui acompanhado por uma redução da tradicional Ginjinha lisboeta.
Só dar os parabéns, e anunciar que voltarei. É conveniente reservar.
© Virgílio Nogueiro Gomes
Restaurante Aromas e Temperos
Travessa Rebelo da Silva, 2 (Arroios)
1000-258 Lisboa
Telefone: 213 620 119
Das 19h30 às 23h00, encerra Domigos