Caju
Caju em fruta completa
Ninguém ignora que o caju, e mais propriamente a castanha de caju, é um emblema do Nordeste do Brasil, e em particular do Ceará cuja capital é Fortaleza. O caju é constituído por duas partes sendo que, verdadeiramente, o fruto é a castanha. O grande corpo colorido e com muito sumo é o que se pode chamar de pseudo fruto. Raramente se conhece a utilização desta parte e, por isso, vou dedicar-lhe mais linhas. A castanha está comercializada como fruto seco e é vulgar encontrar por vezes salpicada de sal e pimenta apesar de ao natural, ser melhor.
Castanha de caju
Quando os portugueses chegaram às terras brasileiras já os índios lhe davam grande aproveitamento. Parece, no entanto, que terão sido os portugueses que divulgaram o cajueiro nas costas da Guiné e o levaram até à Índia, locais onde se desenvolveu com facilidade. O meu primeiro contacto foi exatamente na Guiné-Bissau no início dos anos 70. Considerei-o um fruto prodigioso. E pelas duas partes tão distintas e com sabores tão diversificados. Nessa altura me ensinaram que para melhor saborear a parte fresca e carnuda do caju não se deve usar facas. Aparam-se as duas partes dos topos, e chupa-se até não sair mais líquido. A primeira vez, parecia estranho mas depois tomei-lhe o gosto!
Placa do Museu
Estando em Fortaleza, a minha amiga Katia Teles perguntou-me se conhecia o Museu do Caju e disponibilizou-me para comigo fazer uma visita. E lá fomos. Tendo pouca informação, fui fazendo perguntas. A atração especial seria um patê de caju que seria especialmente preparado para nós lancharmos.
O museu não produz os produtos que estão em venda. Produções artesanais aí colocam os seus produtos para venda. Vejamos os que mais me surpreenderam:
Vinho
Não sei se o nome correto será vinho. Assim se chama porque tem um procedimento de fabricação idêntico ao do vinho. Moída a parte carnuda do caju, o seu produto é deixado a fermentar. Depois é filtrado e engarrafado. Provei, branco, um saber estranho e um pouco ácido, no entanto agradável e que deve ser servido bem gelado, tem a graduação de 10,5 de álcool.
Mel
Outra designação que me pareceu estranha pois quando aparece o termo mel, penso logo no labor das abelhinhas. Trata-se de uma espécie de geleia, bastante líquida. De facto para a confeção é necessário tirar o sumo de cajus, e depois adiciona-se açúcar e vai ferver até ficar com a consistência de melado.
Lambedor de Cupim
Grande surpresa e de difícil entendimento. A língua portuguesa tem destas habilidades. Tenho medo ao explicar, com o risco de ser menos preciso. Cupins são uns insetos que podem adquirir várias formas. Para muitos, cupins são o bicho da madeira. Acontece que em alguns cajueiros surgem uns cupins bondosos, que produzem uma espécie de mel que será usado para confecionar este produto. Para o produto final ainda é adicionado romã, hortelã e cumarú (tipo fava nascida em árvore de grande porte, utilizada para aromatizar e com fins medicamentosos). De facto este “Lambedor de Cupim” é um fármaco popular para reduzir ou eliminar a tosse.
Cajuína
Refrigerante popular, sem gás, fruto de fervura lenta de sumo de caju e consumido em todo o Ceará. Dedicar-lhe-ei uma crónica futura.
Mocororó
Trata-se de uma aguardente indígena, altamente alcoólica e que tem fama de produzir alucinações. Parece produzir-se bebida idêntica em algumas regiões africanas e esta bebida fazer parte de alguns rituais.
O famoso patê
Este patê é confecionado a partir de uma base conhecida como “carne básica de caju”. Para a obter preparam-se os cajus cortando-lhes as extremidades para evitar o gosto a rançoso. Depois cortam-se às rodelas e levam-se ao liquidificador e passam-se por uma peneira e “espremendo muito bem para obter uma fibra enxuta. Aproveita-se o sumo para outras preparações. Prepara-se uma frigideira com óleo (habitualmente de soja) e leva-se ao lume e colocam-se a nossa polpa de caju, queijo seco ralado, cebolas picadas, pimentão (pimento) sem pele e sem sementes picado, dentes de alho amassados, molho inglês, vinagre, cheiro verde (coentros), sal e pimenta. Deixar refogar até conseguir uma massa uniforme. Obtida esta base, junta-se maionese, molho de tomate, requeijão, queijo seco ralado e sal e pimenta a gosto. Envolve-se tudo muito bem, e está pronto o patê para barrar pão ou tostas.
Museu
O Museu está instalado numa propriedade agrícola com vários espaços e ideais para festa ou eventos. Para qualquer lado que se olhe se veem cajus em formas e materiais variados. No edifício principal tem os vários espaços de venda de produtos onde a higiene e cosmética não foi esquecida. O Museu tem em venda muitos mais produtos dos que foram apresentados. Tem uma lista de 40 receitas que podem ser confecionadas por encomenda.
Cartazes do Museu
Em outro edifício tem uma grande coleção de objetos curiosos e uma biblioteca séria sobre caju e tradições locais. Também vendem dois livros com receitas.
Para visitas é preferível fazer marcação. Eu hei de voltar para fazer mais perguntas!
© Virgílio Nogueiro Gomes
Museu do Caju do Ceará
Rua San Diego, nº 322 – Parque Guadalajara – Caucaia
Fortaleza
TEL (085) 3237 2687 – 8835 9915
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