S. Sebastião e Aquiraz

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Altar-mor da Igreja Matriz de Aquiraz, imagem de S. Sebastião à direita, foto de 2014

Hoje, dia 20 de janeiro, é dia de S. Sebastião. Já em outras ocasiões tive oportunidade de escrever sobre este santo que é padroeiro do Rio de Janeiro, tem sincretismo com Oxóssi e ainda dá o nome ao mercado abastecedor de Fortaleza no Brasil. Lembro-me bem da Igreja de S. Sebastião, depois do Convento de S. Francisco, em Bragança. Era um mistério pois poucas vezes estava aberta. À sua porta passei muitas vezes a caminho de casa do meu Avô materno. Curiosamente não me lembro da sua festa e, por isso, poucas memórias me afloram.

Estando no Brasil, em Fortaleza, surpreendentemente, a minha amiga Fátima Façanha desafiou-me para ir até Aquiraz para assistir um pouco à festa de S. Sebastião e ver passar a procissão. Muito embora fosse esse o móbil principal do nosso passeio, e sabendo ela da minha curiosidade por tradições locais, fomos fazendo algumas paragens que se relacionassem com a alimentação, e eu aguardava encontrar tradições alimentares associadas à festa. Claro que não iria encontrar a Aquiraz que Francisco Freire Alemão descreveu em 1859!

Primeira paragem, próximo da Lagoa Redonda, foi para beber uma cajuína artesanal, especialidade local, que é um sumo tratado de caju, e que será relato em próxima crónica. Fez agora um ano que estive em casa do falecido e saudoso Estrigas, artista maior cearense onde também bebi uma cajuína especial por ele produzida. Seguimos para casa de José Albano, artista fotógrafo onde conhecemos o fogão solar aí construído, não necessitando de energia, nem combustíveis, para confecionar. Confeção artesanal com provas dadas. Ainda com José Albano, a sua dedicação a fazer pão localmente com forno a lenha instalado no quintal.

 

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Fogão solar

 

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Forno de pão a lenha

Daqui partimos para Aquiraz. Imediatamente fomos ao “Sorriso Carioca”, um estabelecimento comercial alimentar onde pontifica como doceira, pasteleira, padeira a Sabrina Brandão com que conversei sobre a doçaria / padaria que produz. A conversa estacionou na lista dos produtos que não levam leite condensado. Continuo a não entender a generalização deste produto para tudo o que é doce. Em alguns casos a textura e o gosto alteram-se, em relação ao tradicional.

 

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Sorriso Carioca, Aquiraz

Mas vejamos o que aqui melhor se produz: Bulinho de Goma e Polvilho Peta doces aos quais já me referi na Expedição Gulosa em Viçosa do Ceará e Sobral. Depois ainda Rosca de Milho, Cavaca do Sertão e Rosca de Gergelim, o preferido de Fátima. Ainda, mas como pão, o Pão Amor que é um produto semelhante à nossa massa sovada. Há muito mais produtos mas estes foram os que mais me chamaram a atenção.

 

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Polvilho Peta

Frustrado o objetivo da nossa visita, ver a Igreja Matriz depois do restauro das pinturas do teto, e assistir à procissão que afinal vai realizar-se domingo, a missa que supúnhamos realizar-se às 17h00, afinal era às 19h00, decidi visitar uma vez mais o Museu de Arte Sacra São José de Ribamar que merece, só por si, uma deslocação a Aquiraz.

Eis uma coleção de S. Sebastião expostos no Museu:

 

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São Sebastião

 

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São Sebastião

 

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São Sebastião

 

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São Sebastião

 

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São Sebastião em instalação processional

Depois ainda tempo para um passeio pelo recinto da festa e eis o único ponto pronto para alimentação:

 

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Será que são estas as tradições locais? Haverá programas de salvaguarda do património imaterial que identifica uma região?

 

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Fachada da Igreja Matriz com alguma poluição visual!

Todas as festas são boas. Aproveitemos o melhor que elas têm.

© Virgílio Nogueiro Gomes