O Melhor Pastel de Nata

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O pastel de nata continua a ser um doce emblemático da região lisboeta, e de representação no estrangeiro. Tentei fazer uma cronologia possível para o pastel de nata e que publiquei no meu livro “Tratado do Petisco”.

Todos sabemos que um concurso é sempre o resultado de uma apreciação em momentos especiais, por determinadas pessoas e que, possivelmente, os resultados raramente agradam a todos. Naquele momento, com aquele júri e dos pastéis apresentados, surgiu o melhor. É inquestionável o apreço que deveremos manifestar a todos os que concorrem, sem eles não haveria acontecimento. Pelo 6º ano consecutivo realizou-se a Prova do Melhor Pastel de Nata de Lisboa, e integrado no evento Peixe em Lisboa. Este ano, dado o número elevado de inscrições foi necessária uma pré-seleção para apuramento de nove finalistas aos quais se juntaram os premiados do ano transato.

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O Pastel de Nata é seguramente o doce português mais vendido no estrangeiro e faz parte do quotidiano de muitos portugueses com particular predileção em Lisboa. O pastel de nata tem um passado, uma história e uma consistência de texturas e paladar que lhe valeu o prestigia de quase 500 anos de existência. Possivelmente o maior consumo do Pastel de Nata é como acompanhante do café. Eu sou um desses praticantes. Também se fazem agora em miniatura, mas não é a mesma coisa…!

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Pasteis da Pastelaria Alcôa

Para mim o Pastel de Nata é um dos melhores exemplos de uma receita de sucesso que ganhou perenidade. Recentemente têm aparecido, em fórmula de novidade, uma coleção de pastéis de nata aos quais se adiciona outro elemento na receita do creme, e que consideram uma forma dos pastéis evoluírem ou modernizarem. Não entendo muito bem esta opção. Os que mais privam comigo conhecem a minha opinião sobre a necessidade de evolução do receituário. As artes da cozinha e da doçaria são dinâmicas, evolutivas. Não significa, no entanto, que se deva criar rotura com os elementos identificadores da receita de base ou de tradição pois assim estamos perante uma receita nova que requer outro nome.

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Pastéis de Nata da Pastelaria Biarritz

 

Isto para dizer que umas umas novas criações de pastéis de nata surgem de todas as regiões associando produtos que lhes alteram a execução na pureza do pastel de nata. Estes novos pastéis deveriam, pela sua força gustativa, brilhar sem a necessidade de se “encavalitar” sobre a designação de “pastel de nata”. Conforme a introdução do novo ingrediente os doces criados deveriam apenas chamar-se “pastéis do produto” e não pastéis de nata do produto. A introdução de um ingrediente novo vai criar, de facto, um novo pastel. E é a novidade do novo ingrediente que deveria transformar a receita num produto novo que não necessitasse da designação “de nata”. Vi aparecer o “pastel de nata de cereja” mas que rapidamente passou a chamar-se “pastel de cereja”. E ainda bem! E a terem continuado o nome mais correto seria “pastel de nata com cereja”.

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Pastéis de Nata da Pastelaria Balcão do Marquês

Mas a saga dos ingredientes novos juntos ao pastel de nata, continua. Não sei se haverá muitos mais… vou citar alguns exemplos que tropeçaram comigo. E vou referir apenas os de doçaria. Já vi com batata-doce, com maçã, com castanha… Ora eu chamo-lhes com e não de. Na maioria dos casos são pedacinhos do novo produto ou o novo produto diluído no creme. Do Brasil vem também a novidade de um pastel de nata com caipirinha. Que por vezes é apenas chamado de pastel de caipirinha. É essa a minha proposta: que se chame o pastel pelo nome do novo ingrediente. Há pastelarias que afirmam vender mais o novo pastel que o simples, mas valoroso, pastel de nata. Mais uma razão para não precisarem de lhe chamar de nata! Os novos pastéis deveriam ser chamados de Pastel de batata-doce, pastel de maçã ou pastel de castanha.

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Pastel de Nata do chefe José Avillez no Restaurante Belcanto

Um exemplo de exceção é o pastel de nata com gelado de canela que José Avillez, com grande lucidez e prestígio honrou o pastel, servindo-o como sobremesa no restaurante Belcanto. Os dois predicados do pastel são a excelência da massa folhada, e que quando arrefece se mantém estaladiça, e o creme macio e saboroso. O complemento do gelado de canela dá-lhe outra alegria na boca substituindo a canela em pó com que tradicionalmente se polvilha o pastel.

© Virgílio Nogueiro Gomes

Resultados da prova do “Melhor Pastel de Nata 2014”:

- Pastelaria Alcôa
Lg 25 de Abril  Alcobaça (Venda tb no “El Corte Ingles”)

- Pastelaria Biarritz
Lg Frei Heitor Pinto, 1 Lisboa

- Pastelaria Balcão do Marquês
Av Duque de Loulé, 113 Lisboa