Baunilha e suas surpresas
A baunilha foi, e continua a ser, um produto surpreendente. Sabe-se hoje da sua divulgação na Europa através dos espanhóis que a encontraram no México onde teria uma importância especial como fármaco, como alimento votivo aos deuses e comparável à importância que o cacau já tinha. Teria também sido usada como “moeda” de pagamento de tributo dos povos Totonacas aos Azetecas. Também era prática dos povos indígenas da América Central a utilização da baunilha para aliviar do medo, da fadiga e de depressão! Mais recentemente reconhecem-se qualidades à baunilha como auxiliar da digestão e ainda para melhorar o apetite. Ainda nos tempos modernos a baunilha tem sido utilizada em perfumaria, com o seu cheiro exótico.
Baunilha Vagem *
Dela se tem contado muitas estórias, e a muitas aplicações se destinou até como ingrediente fundamental para preparos afrodisíacos. Contam-se até lendas fantásticas para justificar o seu aparecimento, como se de uma entidade mitológica se tratasse. Parece que quando o descobridor espanhol Hernán Cotés aportou ao México foi recebido com honras importantes por Montezuma que lhe terá oferecido opíparos banquetes que terminavam com uma bebida adocicada feita com cacau e temperada com baunilha. Terá sido através da corte espanhola que a baunilha chegou à Áustria e à França e que a partir do século XVII se começou a adotar espacialmente para as sobremesas, incluindo os gelados. E foi no capítulo doceiro que a baunilha mais se expandiu. Na Europa são raras as utilizações em confeções salgadas. No entanto, no México adiciona-se baunilha a preparações picantes, ao marisco e a alguns pratos de carne.
Considerada para a maioria como uma vagem, contrapõem outros, como Jean-Marie Pelt, que é uma falsa vagem. Adquire, no entanto, um continuado sentido poético, como “néctar" dos deuses, e ainda valorizado pela nobreza da família vegetal a que pertence: a das orquídeas.
Os três magníficos embaunilhados*
Os países onde o cultivo da baunilha ainda se mantém são Madagáscar, Índia, Indonésia, Papua Nova Guiné, Uganda, Tahiti, Costa Rica e naturalmente México. Outras pequenas produções podem ser encontradas como S. Tomé e Príncipe de onde estes aventureiros/cozinheiros, Ljubomir Stanisic, Hugo Nascimento e Vitor Claro trouxeram para estas gulodices. Um jantar “Festim da Baunilha”, no Bistrô 100 Maneiras dia 25, foi servido sendo que em todas as propostas continham baunilha. Nos 15 dias seguintes serão servidas iguarias com baunilha nos restaurantes onde atuam os três chefes. O jantar foi uma surpresa agradável e com as explicações dos pratos dadas de forma humorística e às vezes provocatórias do Ljubomir.
Espadarte, Beterraba, Abacate – Hugo Nascimento, Ravioli de Vieira – Ljubomir Stanisic e Mexilhão Panado e Creme de Limão – Vitor Claro
Espumante Luís Pato Informal 2001, Tasca da Esquina
Nabo, Mandioca, Caviar de Salmão – Hugo Nascimento
Nu 2001, Ljubomir Stanisic com Rui Reguinga
Espargos Brancos Salteados, Creme de Batata e Papada de Porco Alentejano – Vitor Claro
Dominó Branco 2011, Vitor Claro
Risotto, Coco, Carabineiro, Manga e Cebola Roxa – Ljubomir Stanisic
Eclaire Branco 2012, Ljubomir Stanisic com Dirk Niepoort
Cabrito, Cherovia, Molho de Laranja, mel e Espinafres Vermelhos Baby – Ljubomir Stanisic, Hugo Nascimento e Vitor Claro
Eclaire Tinto 2011, Ljubomir Stanisic com Dirk Niepoort
Maçã e Aipo - Vitor Claro
“Cenas e Coisas” - Ljubomir Stanisic, Hugo Nascimento e Vitor Claro
Grandjó Late Harvest 2008
© Virgílio Nogueiro Gomes
Bistro 100 Maneiras
Largo da Trindade, 9 – Lisboa (910 307 575)
Restaurante Tasca da Esquina
Rua Domingos Sequeira, 41C – Lisboa (919 837 255 e 210 993 939)
Restaurante Claro
Av. Marginal, Hotel Solar Palmeiras – Paço de Arcos (214 414 231)
* Fotos de Fabrice Demoulin/100 Maneiras