Não vou escrever sobre política ou razões de Estado. O estado é outro. É cultura, é vivência social, e poderia ser um maior atrativo turístico. Neste momento ainda não sei como incluir tradições alimentares nesta crónica. Sim porque muitas vezes escrevo em vários tempos, mas a alimentação surgirá.

Tive a sorte, ou quis o meu destino, ou o meu Fado, de ter sido convidado para assistir à cerimónia de “coroação” da nova rainha de um grupo Maracatu, dia 13 de janeiro de 2013. O Az de Ouro que foi o primeiro grupo de maracatu instalado em Fortaleza no século XX, 1936. Para aqueles que não estejam familiarizados com este assunto, sugiro que leiam sobre maracatus a crónica, que escrevi em 2009, sobre “Carnaval e Maracatus”.

 

A Rainha, num desfile de maracatu, é a figura mais importante e tem privilégios especiais, não estando sujeita a coreografia e é o único elemento que se pode dirigir ao público ou seus “súbditos”. Não se pode quer ser rainha. Rainha é um lugar que se ganha, e por quem os brincantes assumem respeito. Por isso quando se muda de rainha é um pretexto para festa pública.

(Luci Magalhães, olhando para a coroa que transportou durante anos, e que estava prestes a entregar)

 

Eu ando de volta dos maracatus há cerca de cinco anos, continuo a estudar com a consciência de ainda saber pouco. Mas se a rainha é a personagem mais importante, a Negra que leva a Calunga representa o misticismo que está associado ao maracatu. Devo confessar que esta representação é a que desenvolve, em mim, maior fascínio. (Depois de três anos consecutivos a desfilar, este ano, por sugestão clínica., irei para as bancadas a assistir.) Alguns brincantes lhes fazem reverências e atenções especiais. É bom referir que há uma retaguarda religiosa associada a estas manifestações, que antes eram uma forma de manifestação teatro religiosa, e só no século XX se assume como festejo carnavalesco. Nestes desfiles, que reúnem a população construída do Brasil, os “brincantes não representam, se apresentam.”

(Os cantadores de loas que animaram toda a festa)

Mas festa é festa, muita música com batida de maracatu e cantadas loas de desfiles anteriores, e em especial ouvia-se a “Nega Sebasta” de Haroldo Rangel e imortalizada pela voz do Mestre Juca do Balaio:

“Nega Sebasta, nega Sebasta

Quem é que vem acolá?

É, é, é, é, é a rainha do maracatu…”

Vejam estas imagens apenas legendadas:

(Negra que transporta a Calunga)

 

(Simbologia máxima, a Coroa da Rainha e a Calunga)

(Chega o Rei)

 

(Chega a nova Rainha)

 

(A Negra entrega a Calunga ao Rei e ela pega na Coroa)

 

(Negra com a Coroa sauda a Rainha)

 

(A Coroa é colocada na cabeça da nova Rainha pela sua antecessora)

(Rainha e Calunga parece saudarem-se mutuamente)

 

(A nova Rainha dirige-se pela primeira vez aos seus "súbditos")

(Luci Magalhães faz o discurso final)

Viva a Rainha!

 

Assistam ao desfile dos maracatus. Ah! Já me ia esquecendo. O alimento cultural foi tão gostoso que me ia esquecendo dos outros alimentos. Foi um dia sem história terminado com uns "bolinhos de leite", uma espécie de queques mas muito mais doces.

Divirtam-se com esta cultura, ainda mal divulgada.

© Virgílio Nogueiro Gomes