Na senda da doçaria popular, aqui está mais um exemplo de engenho familiar e alimento de festas. Começo por dizer que gosto do nome, merendeira. Este termo faz-me lembrar as permanentes preparações de “merendas”. Tudo era pretexto para fazer uma merenda: pequena ou grande viagem, tempo de possível esperas, a previsão de apetite… Isto porque tive a sorte de ser educado na província onde se vivia com pequenos prazeres, e uma vida mais acautelada.
Mas vamos às nossas “merendeiras de abóbora”, pequena bolinho que fará parte go grupo de pães doces e que se confecionavam a partir da festas dos Santos, a 1 de novembro, e cuja tradição deixava que se continuassem a degustar até dia de Reis, 6 de janeiro, fazendo-se o maior consumo ma época natalícia. Era um bolinho de confeção caseira e apenas visível nas festividades referidas, e também um prazer de partilha entre familiares e amigos. Não era um doce rico, nem conventual, mas popular. Muitas vezes lhes chamariam bolos dos pobres. E esta tradição foi-me contada pela minha amiga Cassilda Correia que se dedica à melhor doçaria da sua região. Este doce era portanto alargado à região de Tentúgal, Montemor-o-Velho e ia até Coimbra, onde se encontram, também, umas broinhas semelhantes.
Para estas “broinhas de abóbora” necessitamos, naturalmente, de abóbora que se coze em água com sal. Depois de cozida deixa-se a escorrer. Depois amassa-se a abóbora com pouco açúcar, canela em pó, erva-doce e frutos secos ligeiramente partidos. Quando a algibeira permitia também se juntava fruta cristalizada em pedacinhos. Amassava-se tudo adicionando farinha aos poucos até obter uma massa mais consistente e capaz de ser moldada. É frequente neste tipo de receitas aparecer a designação, para a farinha, de se juntar a “que for preciso”. Não é que seja segredo mas depende do estado de água que a abóbora ainda contenha. Certo é que levava mais farinha do que açúcar. E ainda se acrescentava um pouco de massa “azeda” para garantir a função de fermento. Esta massa “azeda” também conhecida por massa “emprenhadora” pois o seu papel tem um efeito multiplicador, de dar vida, de fazer crescer.
Uma vez a nossa massa na versão final, deixamos repousar um pouco, e é então tempo de preparar um tabuleiro de ir ao forno, untado e polvilhado com farinha. Moldamos a nossa massa em bolinhas e vão a forno bem quente. Depois de prontas as nossas “merendeiras” aguentam uns dias de preferência conservadas em caixa de folha.
Depressa para a cozinha experimentar. Viva a nossa doçaria popular.
Ah! Estas merendeiras a acompanhar o chá, ou com um bom generoso, sabem ainda melhor.
© Virgílio Nogueiro Gomes
As merendeiras da foto foram confecionadas na:
Pastelaria POUSADINHA
Estrada Nacional 111
3140-563 Tentúgal
TL 239 951 158