É uma tentação, recordações de saudade, continuar a escrever sobre doçaria popular. Espero que com estes meus escritos alguns se lembrem, e retomem, a sua confeção e que não deixem este receituário se perder. Para começar devo explicar que o termo “sertã” é de utilização comum em Trás-os-Montes e significa frigideira. E consta, como tal, em todos os dicionários de linguagem transmontana. Vou pois escrever sobre os bolinhos que se fritam na sertã (frigideira). Habitualmente confecionavam-se em períodos mais frios, a partir de outubro. Dizia-se que os fritos não sabiam bem com o calor e estas rosquilhas conservavam-se menos bem. Acompanhavam sempre as festas dos Santos, a festa de S. Martinho, as festividades do Natal, obrigatórias no Carnaval e Páscoa.
A receita que vou apresentar faz parte da coleção de receitas do caderno de minha Mãe a que já me referi em crónicas anteriores. Para as preparar são necessários três ovos, duas chávenas de chá de açúcar, uma chávena de leite, meia chávena de azeite cru (eu acrescento extra virgem), uma colher de chá de bicarbonato, uma colher de sopa de aguardente, farinha “a que precisar”, óleo ou azeite para fritar e açúcar para polvilhar depois de fritas. Depois de misturar bem os ovos com o açúcar, juntam-se-lhe todos os ingredientes. A farinha “que necessitar”, deixa-se para o fim. E não se pense que é um segredo. Habitualmente é uma quantidade superior à do açúcar. E vai-se juntando aos poucos à massa até sentir que está na consistência desejada. Ora qual é a essa consistência, para quem confeciona pela primeira vez? A massa tem que se sentir homogénea e capaz de ser moldada para seguir para a fritura. Como podem ver pela foto, fazem-se em pequenos rolos aos quais se sobrepõem as pontas e se pressionam para agarrar e parecer uma alça. Depois de fritas em óleo ou azeite, devem escorrer e nada melhor do que colocá-las sobre papel absorvente tendo o cuidado de as virar para secarem bem. Depois polvilham-se com açúcar. Se desejar guardar faça-o em caixas de folha metálica.
Segundo Maria de Lourdes Modesto dá-se o nome de rosquilha a um biscoito retorcido.
Estas rosquilhas não são utilizadas como sobremesa. Comem-se por gulodice no intervalo das refeições ou então ao pequeno-almoço ou lanche. E mais importante nas merendas no campo, ou nos cestos das romarias. Também há quem aprecie ir molhando a rosquilha no chá ou no café com leite. Para mim parece-me que, seguramente, saberá melhor com um generoso português.
Bom apetite!
© Virgílio Nogueiro Gomes
© Fotos de Adriana Freire
As Rosquilhas das fotos foram confecionadas pela minha irmã Lina.