Estive em Barcelona a convite do nosso Consulado Geral, e fazer uma intervenção no dia da cultura gastronómica do evento “Portugal Convida” com uma mostra de modernidade portuguesa a nível de desenho, cinema, cultura gastronómica, arte, pensamento e música. De Parabéns o nosso Cônsul-Geral, Dr João Ribeiro de Almeida, pelo sucesso destas manifestações.
O capítulo gastronomia decorreu no espaço da “Food Cultura” ao qual dedicarei uma crónica especial, e ao seu mentor, o artista plástico Antoni Miralda.
Depois da experiência em Roma e Madrid, onde conheço excelentes restaurantes, optei por mais uma aventura de rua, ir sem destino certo à descoberta de restaurantes que me entusiasmassem pela carta visível e ambiente. Para começar bem o meu anfitrião convidou-me para um jantar num restaurante de referência e com uma estrela Michelin. Fomos ao GAIG que funciona num hotel, na calle Aragó, 214 (esquina com a calle Aribau). Ambiente agradável, mesas bem postas, e de destacar um serviço de mesa com uma qualidade que vai rareando. Comi “Sardinha sobre crosta de coco”, “Escabeche de Marisco e Verduras”, “Salmonetes na grelha” e “Uma inovação de creme catalão”. Para beber um vinho Rioja – Caves Artadi 2008. Refeição excelente. Não menciono o preço pela delicadeza de ter sido convidado, mas os preços que vi na carta pareceram-me corretos e de acordo com a prestação culinária. Curiosamente quando me colocaram os talheres para os salmonetes colocaram-me, para além do garfo, faca de carne e outra de peixe. Duvido que o chefe tenha lido a minha embirração contra os talheres de peixe. Claro que utilizei a faca de carne, fazendo a sua apologia.
Quem me costuma ler sabe que não é meu hábito referir estabelecimentos onde fui menos feliz. Prefiro ignorá-los, não voltando, e apenas citar aqueles que foram agradáveis. Por isso apenas vou referir mais dois locais que valeram a pena, ou que pelo menos ficaram acima do correto. Passeando deparei com a proposta de um menu degustação, e só depois reparei que se tratava de um hotel. Entrei no Hotel H10 Universitat, na Ronda Universitat, 21 e restaurante Urban. Comi “Espargos com anchovas”, “Tostada de bacalhau com azeite e salsa”, Arroz cremoso de lagostins” e terminei com “Morangos com creme de chocolate”. Para beber, um copo de rosé Castillho de Perelada. E espantem, apenas vinte e seis euros. Outra refeição que valeu a pena, todas as outras tento esquecer, foi num impulso de turista comum, e fui para as Ramblas e à sétima ou oitava leitura de ementas de restaurantes, deparei com um com muito bom aspeto e a ementa apresentava uma sugestão de “Paella” para a qual andava com vontade. Tinha pensado ir à zona do porto mas iria para aqueles restaurantes dos quais tinha boa memória. Mas a minha decisão era partir para restaurantes desconhecidos. Então entrei no 111, título correspondente ao seu número de porta. Ambiente bem decorado, serviço agradável, talheres WMF prata, e comi mais um “Torricado com tomate”, “Tártaro de salmão com abacate”, “Paella marinheira” e “creme catalão com os seus Barquillos”. Para beber novamente rosé Castillo de Perelada. Paguei no total quarenta euros e quarenta e oito cêntimos, dando uma relação preço/prazer muito equilibrada. Curiosamente à saída descobri que afinal o restaurante é do Hotel Meridien. Interessante a informação dos pratos que são vegetarianos, sem glúten, de baixas calorias e com inclusão de frutos secos. E depois ainda há gente que se expressa muitas vezes contra a “comida de hotel.
Agora que ainda sugerir-lhes uma visita obrigatória ao “Mercat S. Josep – La Boqueria”, local de mostra e venda de alimentos. A apresentação dos produtos, a suas cores variadas, e também a sua variedade é impressionante. Também se pode comer e sugiro três sítios, dentro do mercado, onde se pode petiscar e fazer refeições completas: “Marcos”, “El Cochinillo Loco” e Petit”, cada uma com as suas especialidades.
Mas para terminar em doce, vamos visitar três casas muito doces e com muita tradição. Comecemos, ainda nas Ramblas, temos a Pastelaria “Escribá”, casa fundada em 1820 com uma decoração invulgar onde se encontra a doçaria mais tradicional da Catalunha apresentando também algumas especialidades mais modernas. Atravessando para o outro lado das Ramblas, e entrando no bairro mais antigo, “gótico”, caminhando pela calle Pino, no número 16 deparamo-nos uma casa especializada em chocolate, Fargas. As vitrinas são uma tentação. A certa altura vi um doce que era uma espécie de bola alaranjada sobre uma base de chocolate. Perguntando de que se tratava fui informado que era tangerina cristalizada em processo lento de forma que o interior se mantinha meio líquido. A base era com chocolate com sessenta e cinco por cento de cacau. Gentilmente cortaram a minha tangerina em quartos que comi deliciado com a textura do seu interior e a mistura agradável de mastigar, ao mesmo, o chocolate. Imperdível. Mas a rota dos doces só terminaria na próxima paragem da “Caelum” – delícias e outras tentações de mosteiros. O Céu doce na terra, na calle de la Palla 8. Esta casa vende apenas produtos oriundos de conventos e mosteiros e digo-vos que é uma variedade “tremenda”. Também vende licores e livros associados. Na cave dispõe de uma cafetaria com mais petiscos. Paragem obrigatória.
Barcelona a apetecer voltar.
© Virgílio Nogueiro Gomes