O Mestre das Cozinheiras
Hoje escrevo sobre um livro muito curioso, difícil de encontrar, e que é uma espécie de seguimento da crónica intitulada A Mulher no Lar, e que poderão reler clicando aqui. A autora, Maria de Saavedra, era filha de Emília de Sousa Costa, reconhecida feminista do início do século XX e que publicou mais de cinquenta livros sendo que apenas dois dizem respeito às artes culinárias. Maria de Saavedra é o pseudónimo de Helena Emília Teixeira Lopes Sousa Costa Belo Correia, e um exemplar do livro agora apresentado foi doado pelos herdeiros de Emília de Sousa Costa ao Grémio Literário Vila-Realense entre 2004 e 2006, juntamente com outro espólio da autora.
Capa do livro
Este livro começa por um título “estranho”, O Mestre das Cozinheiras, e a mim parece-me que a autora ao invocar no masculino quererá significar o livro e não a figura masculina de um chefe. E logo no prefácio “Duas Palavras Apenas” a autora escreve: “Este livro não deveria talvez intitular-se «mestre das Cozinheiras», mas antes «Guia das Donas de Casa». Ora é para as Donas de Casa que a autora escreve. E continua sobre o livro afirmando: “Acessível aos lares mais modestos, também nas casas ricas será de apreciar.”
Acrescentou um capítulo sobre higiene da alimentação e escreveu: “Para ninguém é novidade que na escolha da alimentação reside, em grande parte, o segredo da saúde e do bem-estar.”
O livro apresenta um primeiro capítulo co receitas de “Cozinha Portuguesa”, segue-se um segundo com receitas de “Cozinha Estrangeira”, depois um capítulo com receitas de “Hors-d’Oeuvres”, e para finalizar um capítulo longo com “Sopas”, “Breve estudo sobre vitaminas e higiene alimentar”, “Tabela de calorias” e “Vitaminas”. Ainda uma parte importante com: “Ementas portuguesas” e “Ementas estrangeiras”. Acrescenta mais: “Conhecimentos úteis”, Tabela de equivalências”, “Serviço de mesa” e “Vocabulário”. Assuntos delicados e poucas vezes abordados nos conhecidos livros de receitas.
Curiosamente atribui, na denominação das receitas, os termos “à portuguesa” ou as variadas regiões que identifiquei com o número de presenças. Assim encontramos receitas “À portuguesa” – 41: “À Alentejana” – 23; “À Transmontana” – 18; “Das Beiras” – 12; “Do Porto” – 7; “De Lisboa” – 6; “A Minhota” – 5; “À Torrejana” – 4; “Do Ribatejo” – 2; e 1para cada localidade ou região: Algarve, Madeira, Setúbal e Sintra.
Surgem ainda duas receitas com a denominação “à lusitana” para duas sopas: “Sopa de peixe à lusitana” e “Sopa de queijo à lusitana”. Pelo não meu conhecimento, apresento a receita digitalizada:
Sopa de queijo à lusitana
A redação de receitas parece com as receitas de muitos cadernos no quais as redações das receitas parecem mais um documento de ajuda de memória e com poucos detalhes ou quantidades dos ingredientes. Apesar destas condicionantes o livro e as sua receitas são uma boa leitura ou um bom exercício.
© Virgílio Nogueiro Gomes