Menu de 1886

Ainda em tempo de férias de verão, curiosidades associadas e este menu da minha coleção. Este menu corresponde a um jantar em 14 de setembro de 1886 da corte belga, sendo rei Leopoldo II (1835-1909), casado com a arquiduquesa Maria Henriqueta de Áustria (1836-1902). Era filho de Leopoldo I e da princesa Luísa Maria de Orleães, e reinou entre 1865 e 1909.

Este modelo de menu foi adotado pelo menos desde 1866 e mantido até o final o reinado de Leopoldo II. No livro La noblesse à table. Des ducs de Bourgogne aux rois de Belges, JANSSENS, Paul & ZEISCHKA, Siger eds, VUBPRESS Brussels University, 2008, afirma-se que «Os menus de banquetes na Corte de Bruxelas são sempre de uma grande sobriedade. O único ornamento é o monograma do rei”, página 208. Na obra atrás citada são apresentados dois menus: de 16 de março de 1880, e de 22 de maio de 1886. São apresentados ainda dois menus idênticos no excelente catálogo Arte e Storia a Tavola, com coordenação de Maurizio Campiverdi, e editado pela Accademia Italiana della Cucina, Milão, 2003, com as seguintes datas: de 4 de dezembro de 1866 e de 27 de abril de 1885. Todos os 5 menus tem uma organização idêntica e a decoração é o monograma do rei Leopoldo II.

Eis o menu da minha coleção:

 

1886menu 

Menu de 14 de setembro de 1886 no Palácio de Bruxelas

 

Eis a tradução e notas:

Sopas

À la Bourdaloue (1)

Creme de cevada

Hors d’oeuvres

Salmão, molho com alcaparras

Lombo de bovino à Jardineira (2)

Entradas

Escalopes de gamo com Klose

Maionese de lagostas

…….

Sorvete de ananas

…….

Entradas de legumes

Cardos à "espanhol" (3)

Chicória com natas

Assados

Frangos, salada

Perdizes

Entradas doces

Pêssegos à parisiense

Bordadura à moscovita (4)

Gelados

Baunilha

Groselha

Frutas

Sobremesa

Compota

  1. Em França o termo “Bourdaloue” está associado a doçaria com peras na sua confeção sendo o mais comum em tartes.
  2. À Jardineira significava apresentar uma carne nobre rodeada por um conjunto de legumes variados e salteados à sua volta, o seu jardim.
  3. Possivelmente cardos com um molho que Carême divulgou na sua obra L’Art de la Cuisine Française, 1833, na qual apresenta o molho que denominou “Espanhol” que não é de Espanha, mas apenas lhe atribuiu um nome que ele gostava.
  4. Será um doce feito em forma circular (exemplo do St Honoré) como nós fazemos as regueifas.

É possível que esta refeição tenha sido servida ainda com o chamado “serviço à francesa” com o 1º serviço até aos Sorvetes, e o 2º serviço a partir daí.

© Virgílio Nogueiro Gomes