Título: La cuisine du 6.me étage
Autor: Nathalie George
Editora: Éditions Herodios
ISBN: 978-2-940666-01-0
De vez em quando surgem livros surpreendentes pelos seus conteúdos. Não é fácil entusiasmar-me por livros de receitas, mas este vai muito para além das receitas. Diria que é a transformação de um caderno de receitas de família em livro. É bem o exemplo de que cozinhar com poucos meios é possível. Reencontro insólito e cheio de surpresas.
Alguns irã dizer que continuo a insistir em livros em língua francesa. Pois é. Continuo não só porque a língua francesa tem todos os vocábulos de cozinha, como os livros de origem francesa continuam a ser os mais brilhantes.
Neste caso trata-se de uma autora pouco conhecida. Na sequência de alguma agruras da vida viu-se confinada a um espaço reduzido, e foi com as confeções culinárias que conseguiu ultrapassar os seus problemas de ordem económica.
O prefácio assinado pelo conhecido Chef Yannick Alleno, que conta com seis estrelas Michelin na sua carreira, escreveu que quando foi convidado para escrever sobre o livro pensou que seria apenas mais um livro dos muitos que surgem. Depois de o ler escreveu: “Reencontrei esta mulher mágica e conversei com ela sobre o seu percurso de vida, a sua história e a sua visão sobre a cozinha. E que encontro! Sente-se em cada linha a sua paixão sobre o produto e o amor do bom… Com este livro, Nathalie prova-nos que a receita não precisa de ser complicada, a cozinha imensa, e os produtos de luxo, para que a felicidade esteja com a degustação. O que gosto mais neste livro, é saber que cada receita juntou à volta da mesa numerosas pessoas com horizontes diversos, que tinham como único objetivo partilhar uma boa refeição e falar da vida, tão simplesmente.” Sugere ainda que não provem apenas o livro, mas que o devorem, e que experimentem as receitas que verão a magia que se opera!
O livro é escrito em três atos e na versão da autora: “Ato I é a descoberta e a aprendizagem dos sentidos, dos gestos, do universo culinário no seu todo, do seu rigor e da sua liberdade. Ato II é a descoberta de dois produtos alimentares de base, as massas e o arroz, elevados em Itália à quinta essência. Enfim, Ato III é o regresso ao essencial e a adaptação que permite comer bem com meios reduzidos”. Pois parece feito para esta época de pandemia e confinamento. Coincidência. A autora demorou quinze anos a prepará-lo que é o tempo que dura há quinze de anos com privações bem distantes do seu início de vida abastada.
A inspiração e o saber fazer vêm da sua avó Gilberte George, conhecida pela arte de receber, e de quem herdou muito receituário e memórias inesquecíveis. Já escrevi algumas vezes que confio mais em cadernos de receitas do que em alguns livros. Eis um bom exemplo.
Encomendei na net e três dias depois estava em minha casa.
© Virgílio Nogueiro Gomes