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Às vezes tropeçamos em alimentos doces, inesperados, que nos causam surpresa e depois comemos o primeiro, vai o segundo e depois o melhor é comprar e levar para casa. Aconteceu-me com estes doces singulares dos quais fiquei fã. Com a vantagem de fazer parte daqueles doces populares que ando a propagandear. E se venho a apresentar alguma da doçaria popular, ou de feiras, festas ou romarias na qual a farinha tem um papel importante, há outra doçaria que surge do aproveitamento de alguns produtos sobrantes da chamada doçaria mais rica. Depois acabam por se encontrar, lado a lado, nos nossos tempos e nas nossas pastelarias.

Para saber mais sobre as “Pratas” conversei com Paula Brito Nunes que me tinham informado ser uma pessoa interessada e ter estudado alguma doçaria de Cascais. A conversa foi boa e doce. Contou-me que averiguou que as “Pratas” nasceram após o sucesso da Joaninhas, também escritas como Juaninhas, e referidas por Alberto Pimentel (1849-1925) na sua descrição de Cascais nos finais do século XIX. As “Pratas” teriam, assim, nascido pelo excesso de claras de ovo que sobravam aquando da confeção da “Joaninhas”. E mais não dizia a não ser que eram com muitas claras. Claro que quis saber para além da sua história, a sua receita. Mesmo quando tem segredos.

Lá consegui arrancar o possível da receita para poder preparar em casa. Assim para meio quilo de açúcar é necessário um terço daquele peso de manteiga, claras de doze ovos e farinha “a que necessitar”. Não é a primeira vez que sou confrontado com esta questão de não indicarem a quantidade de um produto. Aliás isto acontece frequentemente em cadernos de receitas familiares. A prática de quem escreveu o caderno leva, a sua autora, a apenas escrever o obrigatório, e deixar livre as quantidades de produtos que asseguram a consistência de uma massa. Não o fizeram intencionalmente. Escreveram apenas o que elas precisavam. A continuação de confeção dessa receita dava-lhe a segurança.

Estas “Pratas” revelam-se como uma espécie de bolachas. Finas e achatadas. Bate-se primeiro a manteiga com o açúcar. Depois juntam-se as claras batidas e só depois se adiciona farinha suficiente para se sentir a massa unida. Não deve ficar líquida. Depois, com a ajuda de uma colher vão-se colocando colheradas num tabuleiro previamente untado com manteiga e polvilhado com farinha. As colheradas devem ficar espaçadas para a massa não se agarrar de umas pratas às outras. Vai a forno bem quente e deixam-se até ficarem tostadas, a gosto. Por vezes arqueiam-se parecendo telhas. Mas o gosto continua igual.

Noutro local sugeriram-me que também se deve colocar na massa raspa de casca de limão. Porque não?

Estas “Pratas” acompanham lindamente com chá ou café com leite. Mas não esqueça que com um generoso português saberão ainda melhor.

© Virgílio Nogueiro Gomes

Setembro 2011

As “Pratas” da imagem foram confecionadas no Restaurante PAULINHA, em Cascais.