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A notícia não soava a certa. Estava na praia, no Brasil, quando o telemóvel tocou, ouço a voz do meu amigo Carlos Abreu que abruptamente me diz: morreu o Santi. A meio de uma garfada do meu almoço quase não acreditava. Peço para repetir. Afinal era verdade. Sem me dar grandes detalhes, refere de imediato o Paulo Amado pois nós os três tínhamos conseguido que em 2006 o Santi Santamaria fosse o convidado especial do 2º Congresso dos Profissionais de Cozinha que decorreu integrado no Festival Nacional de Gastronomia de Santarém. Tive a sorte, e o prazer, de o apresentar em palco durante o Congresso.

Fui apenas duas vezes ao seu famoso restaurante Can Fabes (o mais antigo restaurante com 3* Michelin em Espanha), e uma vez ao Santceloni (2* Michelin). Mas não vou escrever sobre a sua comida e a forma como transformou a cozinha catalã num produto de excelência. Mais importante foi a linha que manteve no seu percurso até chegar a “mestre” cozinheiro. Autodidata, teimoso e convicto do caminho que decidiu percorrer, não abdicou dos prazeres da mesa. E da vida.

Autor de vários livros, foi alvo das críticas mais injustas quando da publicação do famoso “La Cocina al Desnudo”, que muitos (possivelmente alguns não devem ter lido atentamente o livro) aproveitaram para declarar que aqueles escritos eram uma provocação a Ferran Adrià. Não merecia e tive a oportunidade de, naquele tempo escrever um texto sobre o livro que afirmei de leitura obrigatória para a cultura gastronómica.

Quem teve a oportunidade de o ver e ouvir em 2006 em Santarém, não irá esquecer a lição de simplicidade e de grande conhecimento do que é um produto culinário e o que é a busca de uma confeção que lhe exalte as qualidades.

Pena para a Espanha e para o Universo da Cozinha a partida de Santi. E como amava a vida, logo agora que acabara de ser avô.

16FEV2011

© Virgílio Nogueiro Gomes

(Foto durante o jantar em 20 de Outubro de 2006, em Santarém)