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 (Simples e apetitosos bolinhos de bacalhau)

 

 

O avanço civilizacional desenvolve-se a um ritmo frenético que parece, por vezes, não sermos capazes de o acompanhar. A vida em sociedade e a transformação da economia doméstica levam a que a maior parte da população seja obrigada a comer fora de casa.

Vamos começar por distinguir a alimentação ligada ao trabalho ou actividade escolar, geralmente ao almoço, da alimentação por prazer ou associada a festividades, e consumida em restaurantes, geralmente aos jantares, ou fins de semana. No primeiro grupo ainda temos a alimentação em hospitais e prisões. Nos hospitais, estamos já tristes pelo local, se a refeição for mais atrativa sentimos outro conforto. Da mesma forma que uma melhoria das refeições nas prisões poderá diminuir a agressividade. Pode dizer-se que hoje em dias todas as classes sociais frequentam estabelecimentos de restauração, muito embora cada uma com expectativas diferentes.

E assistimos à primeira grande questão relacionada com a alimentação: o paladar, a tradição, as memórias e até ao estado emocional de cada comensal. Não esqueçamos que comer é uma necessidade e por isso aprendamos a fazê-lo com prazer.

Quantas vezes, na mesma mesa, com ao mesmo prato, dão diferentes opiniões sobre o que comem em comum? Pois é, e deparamos com o primeiro problema da alimentação: é uma arte efémera, para a apreciar é preciso destruí-la, comendo-a. Depois há a educação do gosto de cada um. Dos seus hábitos alimentares.

Podemos, no entanto, listar as preocupações ou expectativas gerais e primárias em todos os casos. Apesar de cada vez mais o consumidor estar alertado para estas questões de alimentação, há ainda muito pouca formação.

Genericamente nos almoços de restauração colectiva, intervalo do trabalho sendo que este não é sempre leve ou agradável, a refeição deverá constituir um momento de pausa, de satisfação, quebra da rotina, e momento para refazer forças. A ingestão de uma refeição sem prazer pode desenvolver no indivíduo um azedume que se repercutirá na produtividade profissional.

A designação dos pratos deve ser simples, evidente, mencionando sempre a iguaria base, a técnica de confecção e as guarnições. Evitar complicações desnecessárias. As ementas devem ser variadas e reagirem à época do ano, devendo o prestador de serviço estar atento ao valor nutricional e à componente dietética. O consumidor não vai exigir saber o número de calorias, mas tem a percepção do equilíbrio da refeição. E vai querer ementas variadas, e que lhe agradem. E que quando escolhe saiba o que vai comer.

O consumidor quer, sobretudo, não encontrar contrariedades. Quer uma atitude de agradabilidade. Quer que a sua refeição lhe seja facilitadora, quer ouvir um “Bom Dia”, um “Bom Apetite” e que seja rápida. Muitos consumidores comem ali porque são obrigados. O comportamento do prestador é, assim, fundamental. A alimentação deveria ser sempre um prazer, tanto maior, quanto a necessidade de o fazermos.

E nos tempos que correm, as regras da chamada Nova Cozinha, vieram ajudar. Quanto mais simples for a confecção mais garantias temos da sua boa execução. Melhorando em permanência a execução, garantidamente chegamos à excelência.

Quais são, genericamente, os preceitos da boa e Nova Cozinha:

- os melhores produtos e consumidos da sua época (quando a Natureza nos dá – abaixo a globalização, viva a biodiversidade), - executar os tempos de cozeduras exactas (cada produto tem o seu tempo de cozedura), - evitar as gorduras e aperfeiçoar o seu tratamento (misturas e tempos de utilização, e naturalmente reciclagem ou descarga especializada), - evitar molhos pesados (todos os dias somos alertados para a prevenção da saúde), - visitar frequentemente os mercados abastecedores, - inovar com frequência, - valorizar as cozinhas regionais, - apresentar bem (antes de degustar, olhamos).

Depois há sempre outros fatores que contribuem para a satisfação de uma refeição. O conforto, o barulho, a vista, a ausência de barulhos e particularmente o serviço. Costumo afirmar que a partir do momento que a cozinha é correta que nos faz voltar é seguramente o atendimento. Eu tenho um grupo de restaurantes que frequento nos quais não preciso de dar muitas sugestões. Sabem as mesas que gosto mais de ocupar, conhecem os meus hábitos e isso sabe-nos muito bem.

Em termos de conclusão podemos afirmar que o consumidor actual gosta de um serviço rápido, simpático, inovador, variado e que não lhe provoque constrangimentos. O preço só é referência quando se termina a refeição e dizemos que não valeu a pena.

Comam prazenteiramente fora de casa não esquecendo que as refeições com vinho sabem melhor.

© Virgílio Nogueiro Gomes