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(Fonte de Trevi à noite)

Acabei de chegar de Roma onde passei uns dias como turista, revisitando alguns locais, e com poucas dicas ir à descoberta de restaurantes. Claro que Roma está apinhada de turistas que prioritariamente se instalam onde vêem massas e pizzas. Não é o meu caso, apesar de também comer. É difícil descrever rapidamente o que é a cozinha italiana. Não podemos esquecer que a Itália enquanto país unificado não chegará ao século e meio. Mesmo nós com mais de nove séculos de unidade, temos mais facilidade em descrevermos as nossas cozinhas regionais do que fazer uma definição nacional. A Itália tem algumas cozinhas regionais muito fortes e, naturalmente, terá alguns elementos comuns que nós não temos: massas e pizzas. Ainda recentemente, quando no final de uma palestra numa universidade sobre a importância da gastronomia para a definição de um destino turístico, uma aluna, no período de perguntas e respostas, me perguntou porque é que havia tantos restaurantes italianos eu respondi-lhe com uma pergunta: quantos restaurantes italianos conhece?. Respondeu-me com uma listagem de restaurantes a que eu respondi que não se tratava de restaurantes italianos mas de pizzarias e serviços rápidos de massas. E isto para explicar que Itália tem uma cozinha muito rica e que pizzas e massas não passam de entradas, e que nós transformámos em refeições. Certo que em Itália há o culto das massas frescas e muitas feitas apenas para consumo caseiro. Certa vez estive uma semana em casa de uma família, em Pádua, que me presentearam com refeições caseiras e com a surpresa de uma massa fresca diferente todos os dias. Destas não esquecerei!

Mas Itália tem cozinhas regionais muito bem identificadas, sendo as mais conhecidas a veneziana, a milanesa, a toscana, a romana e a napolitana. E depois tem encantos gastronómicos locais que fazem apetecer continuar à descoberta. Desta vez esqueci as pizzas e as massas e tentei descobrir restaurantes médios, quer dizer a preços entre trinta e sessenta euros, e acessíveis à maioria dos viajantes. Fiz dez refeições e apenas quatro me merecem ser mencionadas e sugerir esses locais. Como é meu hábito não perco tempo, nem espaço, a indicar experiências mal conseguidas. Nem fazer a lista dos restaurantes a evitar. Irei indicar quatro restaurantes com menção do que comi e o respectivo preço. Quem sabe, algum dos meus leitores passará por Roma e que estas informações lhe poderão ser úteis. Em turista estive no Panteão onde vi os sepulcros de rei Victor Manuel II, rei Umberto I e rainha Margarida respectivamente Pai, Irmão e Cunhada da nossa Rainha Maria Pia. Curiosamente foi esta rainha Margarida que deu o nome à famosa “Pizza Margherita”.

Estando em Roma é quase obrigatório ir ao Vaticano. Não, não me converti, mas a quantidade de obras de arte, e a monumentalidade da sua arquitectura, justificam a visita. Quando se entra de frente para a Basílica de S. Pedro, antes da Colunata de Bernini, Via della Conciliazone, encontra-se o antigo Palácio della Rovere, no qual está instalado o Hotel Columbus. Não há indicação do restaurante. Entra-se no hotel, e aprecia-se a riqueza do palácio, e sobe-se ao primeiro andar para o Restaurante “La Veranda”. Também se pode entrar pelo Borgo S. Spirito 73 que é uma rua lateral com acesso directo ao restaurante. A sala é um imponente espaço com os tectos e paredes pintados por Pinturicchio. A sala dá para um jardim onde estão mesas para poder obter as refeições. Optei por ficar no interior por estar mais fresco e poder observar bem todas as pinturas e efeitos decorativos. Sobre a minha cabeça estava um brasão de um cardeal que naturalmente deve ter contribuído para o enriquecimento do espaço. À frente da cozinha está o Chefe Claudio Favale e apresenta uma cozinha criativa. Comi um “Cesto de Polvo em Fritura Leve e Salada Tépida” e depois uma “Sopa de Morangos com Mascarpone e Estaladiço de Morango”. Com o café foi-me servida uma variedade de pequenas bolachas e gelatinas. Bebi um copo de vinho “Amarasco Principe Pallavicini”2005. O restaurante tem uma extensa lista de vinhos mas não encontrei nenhum português, apenas Vinho do Porto. Paguei no final quarenta e sete euros e cinquenta cêntimos e saí muito satisfeito.

Ainda perto do Vaticano encontrei o Restaurante “Velando” com decoração e inspiração do “Val Camonica” local de maior apresentação de pinturas rupestres. Restaurante discreto e simples mas muito bem apresentado situa-se no Borgo Vittorio 26. Fui recebido pela “patroa” que se manifestou com grande entusiasmo por Portugal, que conhece bem. Trouxe umas rodelas de chouriço artesanal e com umas fatias de pão de alta qualidade. Devo referir que aqui comi o melhor pão. Depois comi “Anchovas marinadas em limão com queijo de cabra em quatro aromas e mel”, seguido por uma “Dourada ao vapor com beringela e hortelã”. Bebi um vinho rosé bem gelado mas que me esqueceu reter o nome, detalhe que é frequente me acontecer quando bebo vinho a copo. Paguei trinta e quatro euros que justificaram o servido.

Por sugestão da revista AROMA, no seu capítulo de cozinha “Mediterrânica Criativa”, apresenta como novidade quarto restaurantes e eu optei pelo “Crispi 19” situado na Via Francesco Crispi 19, próximo da Praça de Espanha. A entrada engana com a sua pequena porta e decoração discreta. Depois avança-se e sente-se um melhor ambiente com as paredes pintadas com elementos modernos mas baseados na antiguidade. O restaurante anuncia-se com o Chefe Fabio Mancuso, “Chef della Equippo Nazionale Italiana Cuochi”, grande conhecedor dos produtos e em especial do peixe. Comecei por “Composição de lagosta e robalo com algas Noiri e pequena salada da estação com pétalas de laranja”. Continuei em peixes, "Atum com molho de vinho Nero d’Avola, misto de vegetais cozidos e foie-gras com vinagre balsâmico”. Para sobremesa uma “Mousse de Verão de peras e morangos com vinho Moscatel doce”. Fantástico. A melhor refeição em Roma. Acompanhei com um vinho branco Frascatti uma reserva especial. Paguei sessenta euros, com muito prazer.

Era meio-dia, estava na Praça Navona, e os termómetros marcavam trinta e sete graus. Na dúvida onde deveria almoçar dirigi-me a um clássico que sempre frequento: “Cul de Sac”, na Piazza Pasquino 73, mesmo nas traseiras da Embaixada do Brasil que está instalada no famoso Palazzo Pamphilj outrora residência papal. Este restaurante a funcionar há cerca de trinta anos está instalado no espaço da mais antiga taberna de Roma. Assumidamente como uma Enoteca, a lista de pequenos pratos e petiscos permitem fazer o mais variado tipo de refeições e variar de vinho conforme o que estamos a comer. Como estava muito calor disse ao empregado que apenas queria pratos frios e de pouca confecção. Lá me perdi com um “Espadarte fumado”, uma “Terrina de faisão com trufas” e ainda um tradicional “Carpaccio”. Refeição sem grande imaginação, de que eu era o culpado, e bebi um rosé “Primitivo”. Paguei trinta e dois euros e confirmei a qualidade que esta casa vai mantendo.

Como prometi não vou falar de desgraças. Roma é daquelas cidades que precisa de orientação para os restaurantes. Claro que não esqueço restaurantes que conheci noutras oportunidades como o clássico “Alfredo”, o top dos top “La Pergola” ou ainda o “Harry’s Bar Roma” sendo que o homónimo de Veneza é mais encantador.

A comida acompanhada com vinho, sabe melhor. Aprendam a beber com moderação.

© Virgílio Nogueiro Gomes