O Palácio Nacional da Ajuda é indubitavelmente o maior museu de Artes Decorativas em Portugal e que reflecte o quotidiano palaciano no século XIX. Desde a primeira Ceia de Mecenas que o Palácio quis evidenciar um pouco da vivência da época apresentando um conjunto de iguarias identificadas em menus do seu arquivo. Mas a Ceia teve que ser ampliada devido à generosidade e aumento do número dos Mecenas e, o que inicialmente era uma Ceia intimista, quase uma Ceia da Família Real, transformou-se num evento de aparato bem ao gosto da época. Começámos há quatro anos uma aventura que consistiu em desafiar as Equipas Olímpicas da Culinária a reinterpretar aquelas iguarias dando-lhe uma característica de modernidade como possivelmente a Rainha Dona Maria Pia teria gostado, ela que sempre imprimiu a este Palácio um gosto moderno ao sabor da Europa.
Em 2009 recriámos três buffets, que podem recordar na crónica Ceia dos Mecenas 2009, pensando em Antonin Carême, expoente máximo da culinária francesa no século XIX - “Cozinheiro de Reis”, que utilizava obras de arte dos palácios onde prestava serviço, para decorar os seus banquetes.
Na segunda fase da sua carreira Antonin Carême, homem também muito culto para o seu tempo, deslocava-se a museus e bibliotecas para reproduzir em desenho as esculturas que depois confeccionava em açúcar, pastilhagem, para embelezar e criar buffets temáticos com as suas esculturas.
Para este ano de 2010, seguimos-lhe também a inspiração e colocámos o desafio ao Centro de Formação Profissional para o Sector Alimentar, da Pontinha, para nos executar em tamanho real uma Coroa, elemento também usual em cerimónias da Corte. Reproduziu-se a Coroa Real no seu tamanho, e que pode ser observada no Palácio Nacional da Ajuda nos retratos da Rainha D. Maria II na Sala do Trono e no retrato do Rei D. Luis no Corredor da Sala da Ceia ou também dita dos Banquetes. Assim o buffet principal tinha a coroa em açúcar colocada sobre uma almofada em veludo vermelho com galões dourados, idêntica à dos retratos atrás referidos. A almofada foi colocada sobre uma caixa coberta por um tecido da época. A decoração foi completada com duas urnas com tampa, em prata, dois castiçais de 6 braços também em prata e dois tufos de flores brancas conforme podem ver na foto.
Quanto à composição culinária, executada com perfeição pelas Equipas Olímpicas da Culinária, foi constituída por:
Profiterole recheado com requeijão e marmelada
Escabeche de pintada sobre torricado
Saladinha de polvo com legumes
Lombinhos de porco com migas de espargos verdes
Bola de enchidos regionais
Empadas de rabo de boi
Caldo de galinha com amêndoa tostada
Donas Amélias
Trufas de chocolate branco
Serica
Gelado de arroz doce
Shot de morangos com vinho madeira
Miniaturas de bolo inglês
E ainda” Bolo Real” fornecido pelo Restaurante Cozinha Velha em Queluz, e “Donas Amélias” doadas pela Associação Portas do Mar de Ponta Delgada.
A Ceia foi precedida por um extraordinário Concerto pelo Coro Dom Luis I, sob a batuta do meu amigo Vitor Roque Amaro, meu companheiro também noutras aventuras musicais e gastronómicas. Para grande surpresa dos que tiveram oportunidade de assistir ao concerto foi poder aplaudir a pianista Gabriela Canavilhas que em simultâneo presidia ao evento como Ministra da Cultura.
Eis um conjunto de ingredientes que não deixarão esquecer este 21º Concerto e Ceia de Homenagem aos Mecenas e Doadores do Palácio Nacional da Ajuda, realizado no dia 5 de Junho de 2010.
Refiro com muito gosto o Mecenas que desde o primeiro evento tem patrocinado e garantido o seu sucesso: a Nestlé Portugal SA.
Visitem o Palácio Nacional da Ajuda
(C) Virgílio Nogueiro Gomes