(Piscina do Hotel W Santiago)
Se não fossem as tentações de tranquilidade de vida, agitada com os ensaios para o desfile de Carnaval, já deveria ter escrito esta crónica.
Fui ao Chile por duas razões concretas: assistir ao 34º Congresso da WACS (World Association of Chefs Societies) e aos concursos de cozinha que decorriam em paralelo. Destes eventos lá fui dando notícias através dos Diários do CHILE 1, 2, 3 e 4, publicados nos respectivos dias, e que poderão agora consultar.
Cheguei três dias mais cedo para conhecer e explorar a cidade capital Santiago. Apesar de prevenido com uma lista de restaurantes recomendados, decidi fazer a aventura de um turista desprevenido e andar pelas ruas e quando tivesse vontade de comer, procurar um restaurante que me agradasse. Não foi fácil, e talvez por isso, fui acometido de um problema digestivo que me levou a uma alimentação muito cuidada, quase a dieta. No entanto lá fui variando.
A primeira surpresa foi o hotel. Fiquei alojado no Hotel W Santiago, recentemente inaugurado, e localizado no sofisticado bairro Las Condes. É um hotel muito moderno integrado num programa imobiliário que, para além do hotel, tem apartamentos/residências, centro de convenções, lojas, e vários estabelecimentos de restauração. Entre eles um restaurante / loja gourmet que também tem livros da especialidade. Desgraça minha pois a cada refeição lá comprava sempre mais um livro. Um dos grandes atractivos de hotel é a sua piscina no 21º andar, de onde se pode vislumbrar toda a cidade e ainda as cordilheiras montanhosas mais próximas. A piscina tem ainda um bar mais elevado onde pontua na chefia o Francisco Quinteras, nosso conterrâneo, que sempre se mostrou disponíveis e satisfeito por poder falar português. Outra pessoa que também trabalha no hotel é a Manuela Mourad, para quem envio os maiores elogios pela sua permanente disponibilidade e capacidade de resposta eficiente a algumas questões que surgiram. Obrigado Manuela. No hotel comi uns morangos que me fizeram lembrar o tempo em que em Portugal só se comiam morangos quando a natureza local os produzia: de Maio a Agosto. Pequenos, vermelhinhos e muito gostosos sem precisarem de açúcar. Aliás no Chile produtos de grande relevo são a fruta e peixes e mariscos, e depois o vinho.
Assumi que era um turista mal informado. Fui para o centro, Plaza de Armas, visitei a Catedral, o Museu Histórico, e a fome de almoço começando a apertar decidi procurar um restaurante. O centro da cidade fervilha de gente, locais e turistas. As propostas visíveis são de restaurantes, quer dizer, locais de alimentação rápida com marcas divulgadas por esta globalização galopante, ou estabelecimentos idênticos. Quis perguntar, mas a quem? Desprovido do meu guia de restaurantes perguntei a um polícia se no trajecto a pé para o Palácio de la Moneda encontraria algum restaurante tradicional, com comida chilena. Pergunta difícil. Responde-me para seguir por uma determinada rua que sempre encontraria umas pizzerias e sandes. Agradeci, pois as pessoas aqui são sempre muito simpáticas, apesar de não terem a resposta que pretendia.
Lá encontrei um restaurante que trabalha só com sugestões do dia e preço fixo de refeição. Comi uma entrada de vegetais, seguida de um “Fricassé” misto de bovino e suíno, e terminei com uma “Crema de Leche”. Como aventura não correu mal, foi rápido e barato. Para o jantar continuei com a aventura. Desta vez desloquei-me, sem guia, para o bairro “Bellavista”, que é uma zona semelhante ao nosso Bairro Alto de Lisboa. Sente-se que, com o adiantar da noite, a animação vai aumentar. E aumenta mesmo. Depois de espreitar para vários restaurantes decidi-me pelo restaurante “Ali Baba”, na rua de Santa Filomena, 102. Ao entrar senti-me como que a entrar num restaurante em Marrakech. Uma carta de influência magrebina e alguns pratos mais orientais. Questionando o empregado de mesa, que hesitando nas respostas por apenas trabalhar naquele local há poucos dias, a patroa veio em meu auxílio e acabou por se sentar à mesa e sugerindo-me comer uma espécie de “tajine” de frango com marmelos e outras frutas. Claro que meu foi servido um estufado mas que estava delicioso e comi tudo o que me puseram no prato. Para sobremesa fui surpreendido com um doce muito semelhante aos “Baklavas” de grande tradição na Turquia. A refeição foi correcta do ponto de vista culinário mas valeu mais pela experiência de convivialidade da dona da casa.
Outras experiências mais discretas foram acontecendo. E no centro da cidade muitas saudades tive da ASAE.
Esta estadia teve o encanto de poder partilhar os deveres profissionais dos meus amigos António Bóia, Carlos Gonçalves, Carlos Madeira, Celestino Grave, Celso Padeiro, Jorge Fernandes e Paulo Pinto. Óptimos companheiros de viagem.
Aproveitem o Carnaval com Muito Apetite.
© Virgílio Nogueiro Gomes