Coleção de Cardápios de Olavo Bilac

É conhecido o meu gosto e estudo sobre menus e em particular pelos do século XIX. Olavo Bilac (1865-1918), brasileiro, foi jornalista, cronista, contista e poeta reuniu uma coleção sobre a qual foi publicado o livro Para a história da belle époque: a coleção de cardápios de Olavo Bilac, da autoria de Lúcia Garcia, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e Academia Brasileira de Letras, 2011. A obra chama-lhe coleção de cardápios, termo que em Portugal não se usa e que significa lista de pratos de um restaurante, mas também utilizada para menus servidos de forma única. De facto, o termo cardápio deve-se à junção de dois termos latinos: charta (papel) e daps, dapis (comida), que significaria lista de comidas, em papel. Transcrevo parte do texto da página 68: “Os cardápios de banquetes e jantares festivos são, com frequência, peças de grande riqueza visual, … A propósito, à época de Bilac, é bem provável que ele colecionasse menus. Afinal, cardápio constitui-se em neologismo criado em fins da época de 1890 pelo filólogo Antônio de Castro Lopes (1827-1901) para substituir a palavra menu em francês.” De facto, a palavra menu manteve-se e curiosamente a maioria dos menus e cardápios continuavam a ser escritos em francês, mantendo a moda. E por vezes havia termos em português talvez porque seria difícil, ou desconhecida a sua tradução.

 

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Capa do livro

Olavo Bilac, Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac de nome completo, foi fundador da Academia Brasileira de Letras, e tem uma vasta obra publicada, com uma vintena de livros. Esteve em Portugal em 1916 tendo-se encontrado com Guerra Junqueiro. Nascido numa família abastada, frequentou a alta sociedade brasileira e assim recolheu esta coleção que tem menus de refeições durante as quais ele foi homenageado e outros de refeições por ele oferecidas, bem como outros no estrangeiro. Será que a coleção foi uma iniciada pela variedade estética dos menus? Certo que a autora aproveita o estudo da coleção para definir uma época especial da viragem do século que foi a Belle Époque, muito identificada com a alteração e novidades dos atos sociais.

A minha maior curiosidade foi identificar a presença de Portugal ou de pratos “à portuguesa” nesta coleção.

 

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Menu

A maior assiduidade diz respeito a vinhos com as seguintes constatações:

24 vezes vinho Madeira (quase sempre seco e para aperitivo)

37 vezes vinho do Porto para as sobremesas; num menu de 1891 existe um Porto datado de 1848

7 vezes vinho de Collares

5 vezes vinho de Bucellas

2 vezes vinho do Douro

1 vez vinho Verde

1 vez Espumante de Portugal

2 vezes vinho Rheno de Portugal (despertou-me curiosidade esta menção, conhecidos que são os vinhos do Reno, e com resposta encontrada na página 261, em menu com publicidade ao Rheno de Portugal – Deliciosos Vinho Branco de Meza, que poderão ver na imagem acima)

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Menu

Quanto a especialidades culinária com a designação “à portuguesa” encontramos apenas 3:

15 de novembro de 1890, jantar, “Râble de Chevreuil à la Portugaise”. (Lombo de cabrito-montês à Portuguesa)

06 de setembro de 1902, almoço «sans femmes», “Papas à la Portugaise”. (Papas à Portuguesa)

18 de outubro de 1900, jantar, “Tomates à Portuguesa”

 Mais uns exemplos com designações "à portuguesa" e dos quais não encontrei as receitas.

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Detalhe de “Sardinhas”

Aparecem ainda em dois menus, nas entradas, “Sardinhas” que suponho que seriam de conserva. Curiosamente no menu que podem ver com a publicidade ao vinho Rheno de Portugal, apresenta nos “Frios” Sardinhas de Nantes “lata”.

© Virgílio Nogueiro Gomes