LICORES
O gosto pelas bebidas doces é antigo. … As primeiras bebidas semelhantes a licores foram o «melicato», uma mistura de água ou leite com mel, o «mulsum», uma mistura de vinho velho e mel usado pelos romanos e descrito por Apicus no De Re Coquinaria como «Conditum Paradoxum», o oximel, uma mistura de vinagre e mel e o hidromel em que se deixava fermentar o mel em água, o que permitia obter algum teor alcoólico. Assim escreveu Ana Marques Pereira no seu imperdível livro “Licores de Portugal”, 2013.
Em minha casa, dos meus Pais e em casa dos meus Avós, sempre se fizeram licores. Muitas das vezes para aproveitar parte da fruta que não se consumia diretamente, e porque naquele tempo só se comia fruta da época, na sua época. A tradição na família continua pelas mãos da minha Irmã Lina. Sempre gostei e os experimentar, mas nunca fiquei convencido ao seu grande consumo. Lembro-me de ficar fascinando quando algum licor ficava pronto lá em casa. Sei que não sou um bom exemplo para apreciação de licores apesar de não abdicar da sua presença em minha casa. Geralmente bebo-os em copo baixo com gelo partido. Por outro lado, são excelentes “temperos” para caldas de açúcar e complemento na preparação de doces e ou sobremesas.
Inesperadamente sou surpreendido com a chegada de uma caixa com garrafas de licor! Surpresa o tipo de licores que me fascinam pela sua retaguarda: “Arroz Doce”, “Pastel de Nata” e “Bolacha Maria”. Estes licores fazem parte de um programa “Cantares de Portugal”, com uma estética específica desde o formato da garrafa a todo o grafismo. Contente e ansioso por provar, ainda demorei uns dias para fazer este escrito. Conhecendo o seu fabricante, amante dos nossos produtos, achei que deveria ter confiança e fazer a prova.
Eis os três heróis:
Passemos à prova individual do licores. Comecei pelo de “Arroz Doce”, possivelmente um dos doces de colher que mais se prepara em Portugal, variando de região para região, as suas variantes de cozer o arroz com leite (de vaca ou de ovelha) ou água, juntar gemas de ovo ou não, também poder ser adoçado com açúcar em pó e por vezes adicionar gordura (manteiga de vaca, de porco ou de ovelha) durante a cozedura. Obrigatório o uso de canela para enfeite final.
Eis como seu autor o descreve: É doce, suave e cremoso, com notas de canela!... Fazem recordar o Natal em Portugal!... Da prova fica um gosto doce aleitado e a presença da canela. Provado e aprovado.
Neste rótulo vem uma mensagem poética de Fernando Pessoa:
Aí os pratos de arroz-doce
Com as linhas de canela
Aí a mão branca que o trouxe!
Aí essa mão ser a dela!
Vejamos agora o licor que mais me despertou a curiosidade, o de “Pastel de Nata”. Todos sabem da minha ligação ao Pastel de Nata e o que sobre ele tenho escrito. Seguramente o doce português mais conhecido no mundo e em Lisboa a dimensão da sua produção é uma constatação doce em permanência. Infelizmente este ano, por força das ameaças do covid não tivemos competição pelo que o Pastel de Nata da Pastelaria Santo António, continua a reinar. Neste pastel sentimos a fragilidade da massa folhada que permite, ao ser tocada na boca, escolhe um creme de ovos que poderá ter um leve sabor a limão ou muito ligeiro a baunilha, e os lisboetas gostam de o polvilhar bem com canela.
Sobre ele escreveu o seu autor: Notas de creme quente, com subtil aroma a canela, é todo volúpia!... Saboreá-lo é provar Portugal!... Depois da prova, e já impressionado com a sua cor igual à do creme do pastel de nata, reminiscências a limão e a sentir a presença da canela. Provado e aprovado.
Neste rótulo uma mensagem poética de Florbela Espanca:
E ao sentir-se tão grande, ao ver-te assim,
Amor, julgo trazer dentro de mim
Um pedaço da terra portuguesa!
A coleção de licores “Cantares de Portugal” não termina com este sobre o qual vou agora escrever: licor de “Bolacha Maria”. Tem a cor e o cheiro mais denunciante do produto. A Bolacha Maria faz parte da memória de todos os portugueses e do seu hábito de consumir em bolo de bolacha. E este gosto desta bolacha que não foi inventada em Portugal, agarrou-se a nós e a levámos para outros continentes. Este licor é um elemento de ligação até para beber e comer em simultânea Bolacha Maria.
João Guterres escreveu sobre o licor: Um passeio afetivo pela infância. Este estimula o olfato e o paladar. Recorda de imediato a «Bolacha Maria»! É o que sentimos!... Levar o licor aos lábios também é saborear Portugal! É impressionante como beber este licor nos lembra a Bolacha Maria. Provado e aprovado.
No rótulo da garrafa podemos ler mais poesia de Fernando Pessoa:
Saudades, só os portugueses
Conseguem senti-las bem.
Porque tem essa palavra
Para dizer que as têm.
Estes licores parece integrarem-se num grupo de licores de leite que se fazem ainda artesanalmente em Portugal. Mas a coleção “Cantares de Portugal” tem ainda os seguintes: “Licor de Pericos de Valença”, “Licor de Ervas Aromáticas”, “Licor Rota das Especiarias”, e “Licor de Chocolate Branco e Amêndoa Amarga”. Na Turquia há um provérbio que diz: temos de ingerir doces para ficarmos mais doces. E os licores também ajudam a combater o tempo frio que irá chegar.
Parabéns a João Guterres por estas criações.
© Virgílio Nogueiro Gomes
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