Como se faz rir
Nestes tempos de inverno e frio, e com a pandemia a decorrer…, nada melhor do que poder rir um pouco. Ao folhear o livro com esse título, da autoria de Procópio Ferreira, 1967, não hesitei em partilhar convosco o que o autor escreveu sobre comer e atitudes à mesa. E, apesar de já terem passados mais de 50 anos, algumas frases parecem atuais e dirigidas a alguns consumidores nestes tempos.
Procópio Ferreira foi filho de um casal de emigrantes que partiram da Madeira para o Brasil, e o seu nome era João Álvaro de Jesus Quental Ferreira (1898-1979). Teve formação em escola de artes dramáticas e iniciou a sua carreira em circo onde apresentava pequenas peças de teatro. Foi ilustre ator de teatro e cinema, teatrólogo importante escritor. Escreveu nove peças de teatro e quatro livros enquanto dramaturgo. Foi pai da ilustre Bibi Ferreira (1922-2019) que chegou a representar em Portugal várias peças de teatro. Lembro-me bem do seu passamento pois estava no Brasil nessa data.
Pois a crónica de hoje é constituída por citações de Procópio Ferreira no livro “Como se faz rir – O que penso… quando não tenho em que pensar”, no capítulo “Das Comidas”. Editor Folco Masucci, São Paulo, 1967. A maioria deve ser lida com sentido humorístico, outras para refletir em alguns comportamentos atuais. Não farei comentários.
Tenho observado que os pobres sabem comer melhor que os ricos. O que lhes falta, às vezes, é oportunidade.
“Parece comidinha de casa”. Este é o maior elogio que se pode fazer à comida de restaurante.
No Brasil, os restaurantes matam mais gente do que a pneumonia.
À mesa deves estar sempre com muita atenção para não comeres o guardanapo em lugar do bife.
Ao saíres da mesa nunca tragas os talheres, a não ser que eles sejam de prata.
Uísque é cachaça falando inglês.
Quem toma vinho tinto gelado é capaz de mandar esquentar sorvete.
Em geral a cerimónia tira o apetite.
Previnam-se contra pessoas que dizem que “comer é um ato muito material”.
Comer é um estado d’alma.
Quem bebe uísque como aperitivo não sabe beber.
Feijoada com galinha é o mesmo que “smoking” com calça branca.
Comer frango com talher é pedantismo.
Uma refeição com “Coca-Cola” é o mesmo que dormir de sapatos.
Há pessoas tão chatas à mesa, piores do que melancia com vinho.
O queijo deve-se comer no princípio ou no fim?
Pão de forma é miolo com fita durex.
Há pessoas que se inclinam tanto sobre o prato que parecem cavalos na manjedoura.
Manga só se de servir em fatias. Do contrário não se serve.
A melhor maneira de chupar manga é no banheiro.
Devo o conhecimento deste livro ao meu bom Amigo Walden Luiz, ele também grande teatrólogo, ator, encenador, autor de vários livros e grande folclorista galardoado.
Comam com alegria.
© Virgílio Nogueiro Gomes