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Título: Identidades que se comem

Autores: António Manuel Monteiro

Editora: Âncora Editora

ISBN: 978 972 780 6508

Surpreendente para muitos dos leitores, este é um livro que se come, melhor dizendo, que se devora. Depois de começar a ler, apetece mais! O autor é bem conhecido pelo seu saber e pela sua capacidade extraordinária de, pela escrita, nos transmitir os seus saberes. Que são muitos!

A começar pelo título que também poderia ser “identidades para comer”, vai mais ao detalhe no subtítulo: Da rusticidade alheireira à intimista Lhéngua Mirandesa. Que poderá querer dizer ir de um produto emblemático transmontano, à riqueza de termos o privilégio de uma segunda língua, ou viajar nesta cultura regional. O autor utiliza muitos termos do linguajar transmontano e outros termos muitos específicos, ou seus, que poderá parecer estranho a um leitor desatento. Pois é, leva-nos a ter uma atenção especial para os vocábulos usados para os quais o seu entendimento vem na continuação da leitura.

Também poderíamos dizer que se trata de um elogio à simplicidade dos produtos locais elevados a uma categoria gastronómica e entendidos por aqueles que os sentiram crescer, no campo, e o seu prazer final ao serem consumidos. Mas todos estes atos de comer são momentos conviviais que nos remetem para um tempo conciliado com a natureza. A parecer uma visão antropológica de tradições transmontanas!

O livro não tem receitas. Está recheado de citações relacionadas com os produtos ou os atos do seu consumo. Por isso entusiasmante! Com indicações precisas da bibliografia socorrida. Só de ler o índice ficamos com apetite. Eis a ementa: Azeitonas, e Alcaparras Delas, Principalmente das Negrinhas de Freixo; Merujas, Erva e Salada, Las Yerbas de L Regaho Mirandés; Azedas, Beldros e Alabaças, Ademais, Outras Ervas de Sustento; Espargos-Bravos, E Norças-Brancas, Complementos Frutuários nas Dietas Rurais; Beldroegas, Las Bordelagas, Daninhas, Comeres de Bô Sustimento; Chouriça de Baca Mirandesa, Fumeiro Relegado que Merece La Perpetuidade; Tabafeias, Loronhas e Vilões, ou Chabianos, Não Haja, Pois Confusões!; Toucinheiras, Depois Alheiras, Mestria e Grandezas Mirandelenses; Botelos Transmontanos, Outras Nomeadas, e as Sorças de Adobar Carnes; Seiscentos Anos de Azeites, Subtilezas, em Trás-os-Montes e Alto Douro; Folar, Folares, e Folias, (Esses) Panes Amarielhos cun Chicha I Chouriço!; Amêndoa Coberta de Moncorvo, a Rota da Doçaria Barroca; e O Pretexto, A Motivação, Estímulos.

Verdadeiramente um livro de cultura com evidência do património alimentar e identitário de Trás-os-Montes.

Um livro para comer em variadas refeições. Bom apetite!

© Virgílio Nogueiro Gomes