Espigas Doces de Montemor

 

 

 

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Claro que me refiro a Montemor-o-Velho, no distrito de Coimbra. E é mais um doce. Os meus leitores habituais já perceberam o entusiamo especial que dedico na apresentação de doces. Aliás, em Portugal, o que mais nos diferencia de outras nações, é a grande diversidade de doçaria e a sua identidade associada a um território. Esta região Centro é pródiga em doces. E há sempre uma novidade que nos surpreende.

Também este doce me surgiu em surpresa e por encanto. Estava eu em Tentúgal atrás dos seus pastéis e das queijadas quando tive a oportunidade de assistir à preparação destas “espigas”. Como verão pelas fotos, estes doces lembram pequenas espigas de milhos, nasceram no século XX e não são conventuais o que não lhe retira mérito nem valor guloso.

O engenhoso Senhor Henrique Baldaque idealizou o doce, e desenho os moldes que permitem a execução das espigas. Posteriormente vendeu a patente ao Senhor Dionísio, proprietário de um farmácia em Montemor-o-Velho. É a este senhor que o Senhor Afonso, há cerca de 35 anos, comprou a patente e os artefactos que farão sucesso na pastelaria, de que é proprietário: O Afonso em Tentúgal. A nova geração, as suas filhas, mantém a tradição e garantem a continuação da produção deste delicado e invulgar doce.

Como vai sendo meu hábito, não tenho propósitos de dar receitas, mas explicar a sua preparação. Este doce é, ainda, mais difícil de fazer pois sem as formas especiais não é possível reproduzi-los. Para entender o doce vejam a sequência fotográfica para ficar a saber como se preparam. Depois vão a Tentúgal experimentar que, seguramente, não se vão arrepender.

 

 

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O conjunto de peças em ferro para moldar os doce

 

 

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Colocação de uma massa composta por ovos, farinha de trigo, manteiga e limão, nas 4 peças do conjunto que fazem a forma das espigas,

 

 

 

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Peças em ferro, com a primeira massa, já com a cinta metálica que as mantém unidas

 

 

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As formas já cheias com o recheio constituído por um creme de ovos com açúcar

 

 

 

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As espigas já cozidas e saídas do forno

 

 

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Mãos habilidosas que com a ajuda de uma pequena faca retiram as espigas das suas formas. É impressionante a velocidade com que estas artistas fazem esta operação

 

 

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Espigas já desenformadas antes de seguirem para a vitrine de vendas

 

 

 

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Num prato de servir

 

 

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Uma espiga já aberta. Estes doces devem comer-se à mão

As espigas são uma emblema nesta paragem d’O Afonso. Na voz de Olga Cavaleiro são um exemplo de doce da memória e da saudade. Bem verdadeiras estas palavras. A comida, e os doces em particulares, têm uma relação afetiva, e emocional, connosco e que nos remetem constantemente para a saudade.

Estes doces também já foram apelidados de doces do cuzinho queimado. De facto, a extremidade mais larga é o pedaço mais saboroso e mais pecador. Não é queimado, mas caramelizado. Há quem comece a comer gulosamente pela parte melhor, e outros, como eu, que faço ao contrário. Deixo a parte mais gulosa para o final.

Bom apetite!

© Virgílio Nogueiro Gomes

Pastelaria O AFONSO
Estrada Nacional 111
3140-563 TENTÚGAL

TL 239 951 140

 

 

 

 

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