BOLINHOL, o Pão de ló de Vizela
Em recente visita a Vizela dei-me conta de que nunca tinha escrito, expressamente, sobre este verdadeiro emblema doceiro de Vizela, o famoso pão de ló coberto, mais conhecido por BOLINHOL ou Pão de ló de Vizela. No meu Dicionário Prático da Cozinha Portuguesa encontra-se a seguinte definição: Da família do pão de ló e oriundo de Vizela. Receita com açúcar e ovos bem batidos, aos quais se vai juntando farinha peneirada. Depois, coze em forma retangular e é coberto com uma calda de açúcar que, quando seca, fica branca. Aqui estou agora para melhorar a simplicidade atrás descrita e corrigir um detalhe. Idêntica definição está também no meu livro Doces da Nossa Vida, remetendo, contudo, para mais informações contidas no estudo de Isabel Maria Fernandes, no livro Doçaria de Guimarães. A correção que deve ser feita é em relação à coberta que não necessita arrefecer para ficar branca. É quase automática em relação à sua aplicação.
O Bolinhol parece bem um exemplo de um processo evolutivo de uma receita, que com a introdução de alguns detalhes fixou uma receita identitária de um local, uma região. Supostamente a criadora desta receita foi Joaquina Pedrosa Ferreira da Silva (1874-1922) e que terá passado a sua receita, e a prática de a executar, aos seus sucessores e herdeiros. Estranho é que a data divulgada da sua criação é 1880, o que revela ou o prodígio de Joaquina, com apenas 6 anos, ou a data deverá ser corrigida. Certo é que o Bolinhol é de comer, e suspirar por mais! O Bolinhol esteve sempre nas mãos dos descendentes de Joaquina da Silva, em dois ramos: O Delícia estabelecido desde 1922 e o Kibom desde 1974. Neste momento há uma terceira pastelaria, que não pertencendo a descendentes de Joaquina, também produz Bolinhol. Um Tribunal de Guimarães, 2011, na sequência de uma contenda entre diretos de comercialização com a designação “bolinhol”, em sentença ficou estabelecido que receita é pública e não há direitos exclusivos de comercialização. Dura lei, mas é a lei. Cuidadoso relato do Bolinhol no livro imperdível de Cristina Castro “A Doçaria Portuguesa – Norte”.
O Bolinhol é mais um exemplo de um doce, que são sendo conventual, pode ser e é um doce de excelência. Não está em causa as possíveis influências recebidas após a extinção das ordens religiosas em 1834. É da família dos pães de ló portugueses, e apresenta a subtileza de ser cozido em forma retangular e a delicadeza é garantida pela aplicação de um caldo (ponto leve) de açúcar logo após a saída do forno o que garante que não seque de imediato. Felizmente é preparado em, pelo menos, três formatos. O nome Bolinhol parece atribuído como diminutivo de “bolo” e outros defendem que o nome advém de o pão de ló coberto ser, no início, embrulhado em linho rústico.
Dou o conselho de provar os três Bolinhóis que se fazem em Vizela e, depois, repita o que mais gostar. Temos de nos habituar, mais, a valorizar a nossa autoestima com aqueles produtos que nos diferenciem. Abrilhantar mais as nossas produções gulosas e centenárias. E, depois, o doce nunca amargou...
© Virgílio Nogueiro Gomes
Locais de produção de Bolinhol em Vizela:
- Casa do Bolinhol Kibom
Rua Dr Abílio Torres, 431
- Casa do Pão-de-Ló Delícia
Rua Dr Abílio Torres, 465
- Pastelaria Fina
Rua Dr Alfredo Pinto, 94