Já não são novidade as minhas reflexões sobre o que se considera comida portuguesa no estrangeiro, as suas dificuldades, as suas teimosias, e a irreverente desinformação que tal provoca aos consumidores locais. Por vezes, quando têm a oportunidade de vir a Portugal e frequentam restaurantes se encontram baralhados pois, os pratos que conheceram no estrangeiro, nem sempre correspondem à tradicional forma de confeção em território luso.

Comecemos pelos produtos. Nem sempre os produtos locais coincidem em qualidade e sabor aos produtos portugueses. É errado insistir em receitas cujos produtos não se assemelham, sequer, aos nossos. Não vale a pena tentar confecionar “Carne de Porco à Alentejana” quando não há ameijoa. Não vale fazer “Bacalhau à Zé do Pipo” quando se retira a maionese, e se substitui por claras em castelo. Não vale inventar um “Bacalhau à Transmontana” gratinado com molho Bechamel, … Seria longo o citar de exemplos do que não se deve fazer em restaurantes portugueses pelo Mundo. Mas não há só exemplos pela negativa. Felizmente encontramos, também, bons exemplos e bom trabalho de alguns. Claro que, voltando aos produtos, Portugal tem categoricamente “o melhor peixe do Mundo” não sendo fácil chegar a todas as localizações pretendidas. Certo é que grandes chefes de cozinha de Nova Iorque a Paris, conseguem obtê-lo apesar de ser a um preço elevado, mas a sua qualidade compensa-os no resultado final. O bom é convidar todos a comer peixe em Portugal.

 

 

O que parece acontecer é que nem sempre o empresário de estabelecimentos de alimentos e bebidas se apoiam em profissionais de méritos reconhecidos. Para gerir um bom restaurante, como qualquer negócio específico, obriga a ter profissionais da área. Depois em vez de fixar os pratos a apresentar, primeiro deveria estudar-se bem o mercado local e, em função das mercadorias, se fixar a lista de especialidades para confeção.

Quando viajo ao estrangeiro tenho sempre muita curiosidade em conhecer as especialidades locais. O que não impede de experimentar a oferta de pratos locais, especialmente quando faço estadias mais longas. Já tenho referido em crónicas anteriores algumas refeições muito agradáveis. Desta vez, e em repetição de idêntico convite do ano anterior, convidaram-me para comer “mão de vaca guisada com grão-de-bico”, que aceitei de imediato. Parece surpreendente que em Fortaleza, com um calor delicioso, apeteça um prato deste quando nos habituámos a que nos conforte durante o inverno frio. O convite veio do Restaurante Marquês da Varjota, em Fortaleza, onde me habituei a levar convivas sempre que quero partilhar uma refeição à portuguesa. É, para mim, um dos melhores locais de Fortaleza com mesa portuguesa, com certeza. O casal Berta e Armando Lopes fazem as honras da casa.

 

(Pão com chouriço)

Para começar chega, a cheirar ainda à saída do forno, uns pãezinhos com chouriço, vindo de Portugal e pãezinhos com alho. Revela-se de extrema importância este começo de refeição pois, apesar da fama dos padeiros portugueses, a moda e o gosto virou-se para o pão francês, e é raro ter o pão de que os portugueses estão habituados. Aliás as refeições no Marquês começam, habitualmente, com um pãozinho com manteiga, ícone do restaurante e bem desejado pelos clientes. Desta vez ficámos elo pãozinho com chouriço. O pão continua a ser um elemento estruturante da alimentação portuguesa. A variedade de pão em Portugal, e a utilização de vários cereais para o produzir mantem permanente uma escolha muito proveitosa, e diferenciadora.

 

 

(Mão de Vaca guisada com Grão de Bico)

 

Seguiu-se o guisado de mão de vaca com grão-de-bico. O tacho veio para a mesa e cada um servia-se. A mão estava bem cozida e as partes gelatinosas deixavam-se devorar, um tempero a puxar para o picante e o grão ligeiramente estaladiço sem se desfazer em papa. Foi servir e voltar a servir. Para acompanhar o dono a cas sugeriu um Vinho Verde, sobre o qual não me manifestei, mas que depois me rendi. Bem geladinho, cumpriu bem a missão.Esta iguaria não consta do cardápio. Só por encomenda.

(Leite-creme queimado)

Não há refeição sem sobremesa. A variedade de doces em Portugal é famosa e deve, em parte, ao Brasil essa riqueza que foi o açúcar a partir do século XVI. Pena que no Brasil usem indiscriminadamente o leite condensado descaracterizando a sua doçaria própria, e deixando todos os doces a saber ao mesmo. A textura dos cremes também é afetada. A sobremesa eleita foi o leite-creme queimado que, coitado, também foi vítima desse pecado. A proprietária confessou-me que é a sobremesa que mais vende, por isso teve que aderir ao leite condensado…! Também provei e comi, mas não é a mesma coisa. Mas também há outros doces portugueses, no Natal há bolo-rei e por vezes pastéis de nata.

(Bolinhos de bacalhau)

Mas no Marquês da Varjota também se comem outras especialidades portuguesas com destaque para o bacalhau e o polvo. Não esquecendo os bolinhos de bacalhau. A lagosta grelhada é um atrativo. Boa opção de vinhos.

(Polvo assado à Lagareiro)

 

Bom Apetite!

© Virgílio Nogueiro Gomes

O MARQUÊS DA VARJOTA

Rua Frederico Borges, 426

Fortaleza

TL 085 – 3023 5120, das 11h00 às 24h00, dispõe de Manobrista