Chega o verão e parece que todo o País entra em festa. Então, durante o mês de agosto parece um Portugal em romaria. Estas proliferam por todo o território, e ao abrigo de um Santo de devoção local há uma programação com contempla o aspeto sagrado e desenvolvem-se em paralelo um conjunto de atividades ditas profanas mas com muito sentido lúdico. E nestes tempos que se manifesta a variedade gulosa de cada região e há muitos doces populares que, infelizmente, só nesta época aparecem. Apesar de eu gostar muito destas manifestações, chega o mês de agosto e eu mantenho-me muito quietinho nesta pacatez lisboeta, evito as estradas e desenvolvo algum prazer de não fazer nada. Também sabe bem!
No feriado do dia 15, desafiado por um amigo, rumei a Alcochete onde decorriam as Festas do Barrete Verde. Guardo boas recordações desta terra, as festas envolvem touros que muito aprecio, há locais onde se come bem, e porque não? Era só atravessar a Ponte Vasco da Gama, e não era preciso enfrentar estradas cheias de trânsito.
A minha intenção era fazer o percurso junto ao rio Tejo, passar junto à Igreja da Misericórdia e tentar estacionar junto ao jardim. Acesso condicionado. Obrigado seguir pelo desvio. E eu que julgava conhecer Alcochete, começou a sinalética a faltar e depois de circular, não sei bem por onde, decidi estacionar e perguntar como chegar à zona ribeirinha. Um habitante local, a quem pedi ajuda, disse-me: “os sinais são só para quem conhece isto. Toda a gente anda perdida…!”.
Ouvindo alguma algazarra dirigimo-nos nesse sentido. Tivemos sorte. Era o último touro da largada. È bom assistir à coragem dos provocadores do touro. Mas este não estava muito entusiasmado com as provocações e até parecia fazer pose para um fotógrafo mais atrevido.
Continuámos o nosso passeio a pé e chegámos ao jardim da zona ribeirinha. Alguns barcos de pesca estavam já engalanados para a procissão que iria acontecer ao final do dia. E lá chegámos à Igreja da Misericórdia onde se encontra instalado o Núcleo de Arte Sacra do Museu Municipal de Alcochete. A primeira imagem foi de surpresa e descontentamento. A quantidade de equipamentos colocados junto à Igreja tira-lhe toda a dignidade, e não deixam ter uma leitura do edifício. Quando se fala tanto em proteger o Património isto parece-me uma agressão! Depois contornamos e a nossa intenção era visitar a instalação museológica. Fechado aos feriados. Não praguejei mas deparei-me como absurdo de, nestes dias de muito movimento, estar fechado. Alguns minutos que lá estivemos, parados junto à entrada, surgiram muitos pretensos visitantes que também pareciam indignados.
Sendo hora de almoço o melhor seria ir comer. E dirigimo-nos diretamente à “Tasca do Victor”. Apetecia-me ir a um local bem central, e do qual guardava boa memória. O restaurante só é tasca de nome. Eu lembro-me de ainda ser um estabelecimento mais antigo e depois da execução de obras para remodelação como agora se encontra. Sempre foi um local de cozinha regional portuguesa firme, e bem executada. Apesar de ter tomado o pequeno-almoço mais tarde do que é habitual, pensava fazer um almoço leve. Quando vi os pratos do dia não resisti a “Mão de Vaca Guisada com Grão” apesar de ser agosto. Como não queríamos comer muito petiscámos um queijo alentejano sem história, depois o meu amigo comeu um polvo assado com cebolada. Provei e estava bem cozido e tenro. Eu “botei-me” à mão de vaca guisada com grão-de-bico. Sentia-se que tinha acabado de ser confecionada, o grão estava no ponto, não se desfazia na boca, as cartilagens tenras e no conjunto estava um prato excelente. Nem eu acreditava que iria comer a dose toda. Mas para não ficar com “boca de pobre” ainda houve espaço para um leite-creme queimado que estava correto. Comer mais português, impossível. Acompanhámos com um vinho tinto jovem da Adega dos Passarinhos de Pegões. Serviço de mesa ráido e agradável.
(Polvo Assado)
(Mão de Vaca Guisada com Grão)
Estão a acabar as crónicas de verão, mas o apetite continua.
© Virgílio Nogueiro Gomes
Restaurante Tasca do Victor
Rua da Quebrada, 10
2890-180 Alcochete
TL 212 340 912 Encerra às 4ªs