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(Pasteis de Nata de Lisboa)

Assisti entusiasmado à transmissão em directo, dos Açores, da escolha das 7 Maravilhas da Natureza de Portugal, que foram: Lagoa das Sete Cidades, Paisagem Vulcânica do Pico, Floresta Laurisilva, Grutas de Mira Aire, Portinho da Arrábida, Ria Formosa e Parque Nacional da Peneda-Gerês. Naturalmente que não vou referir-me em detalhe a cada uma destas maravilhas, que conheço na maioria, pois os meus escritos costumam virar-se para outro tipo de maravilhas. Nem discuto se não deveriam ser outras… ouvi atentamente que estes resultados foram considerados como uma grande adesão popular pois houve no conjunto um total de 656 356 votos. A mim pareceram-me poucos! Mas que esta eleição sirva, pelo menos, para chamar a atenção para a necessidade de conservação da Natureza. Também gostei do espectáculo e em especial da última interpretação de Mariza. Já mesmo no fim, e num rápido discurso talvez pela ameaça iminente de temporal, ouvi Luis Segadães prometer que esta iniciativa não terminava naquele momento, e que se seguiriam outras maravilhas portuguesas e, entre elas, as da gastronomia. Parabéns e terá muitos apoiantes entre os quais me disponibilizo de imediato.

Já em Julho de 2007 eu escrevi uma crónica a propósito da eleição das 7 Maravilhas do Mundo e que, em paralelo, decorreu uma eleição para as nossas maravilhas gastronómicas a partir de uma listagem de 21. Esta lista terá sido elaborada por um grupo de pessoas relacionadas com a actividade supondo que a maioria estaria ligada a um prestigiado grupo hoteleiro que lançou o desafio. Mas parece-me que, tendo em consideração as especificidades da Gastronomia, se deveria discutir o método de pré selecção de candidatos. O exemplo de 2007 apenas listou 21 especialidades e não as classificou por grupos ou categorias. Sendo 7 o número de apurados finais quais seriam as categorias? Podemos considerar entradas frias, entradas quentes, sopas, peixes, mariscos, carnes, caça, doces de colher, bolos, doçaria popular… ora só neste exemplo já passei das 7. É certo que alguns podem agrupar-se com critérios bem definidos. Depois temos os nossos enchidos, seriam considerados nas entradas frias? E as alheiras?

A minha sugestão é que se constitua em tempo rápido um grupo que estabeleça o regulamento que contemple todos os casos delicados. Pareceria fácil fazer uma listagem e depois deixar à votação e eleger os mais votados. Correríamos o risco de ter uma classe dominante que impedia a visibilidade de outros. Eu sei que “temos o melhor peixe do mundo”, mas seria estranho que ganhassem a maioria dos lugares. E a nossa doçaria? E onde entram os queijos? Ainda outra questão que me trás dúvidas tem a ver com a forma de se elegerem as 7 maravilhas. Não me parece adequado que, num painel de 30 ou 40 pratos / produtos, se elejam directamente os premiados. Já atrás citei as dificuldades em colocar os pratos / produtos por categorias pois iríamos facilmente ultrapassar as 7. Este fatídico número, para muitos é um número da sorte, determinará, fatalmente, o método. Parecerá fácil criar 7 regiões e então eleger um por região. Mas como se vão definir as regiões? Para mim lamento a junção de Trás-os-Montes e o Minho e considerar apenas uma região Norte de Portugal. Não por ter nada contra o Minho, que muito aprecio, mas porque ainda distinguimos bem as diferenças das suas cozinhas regionais. Também o Ribatejo e a antiga Estremadura têm uma junção administrativa / promocional com alguns conflitos se pensarmos nas usas identidades culinárias. Que 7 regiões teremos? Alguém acha possível juntar a Madeira e os Açores? Imaginam as regiões gastronómicas (7) e depois digam-me como as definiram. Ora estas escolhas, opções, não irão satisfazer a todos. Mas alguém terá de o fazer e de forma consensual e de preferência explicada. Ou correremos o risco de andar em alta velocidade para eliminar as características das nossas regiões.

Já que o título é “Gastronomia”, onde ficam os nossos vinhos?

Estes projectos ajudam a melhorar a auto-estima dos portugueses. Temos que deixar de pensar pequenino e ter mais orgulho em tudo que, ainda, é nosso. Eu apoio estes eventos.

© Virgílio Nogueiro Gomes