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Ainda e de Volta às “Alheira de Bacalhau”

 

Quando escrevi a minha primeira crónica sobre a “alheira de bacalhau”, estava longe de imaginar a novela que se iria desenvolver. As minhas preocupações eram culturais e de uma tentativa de por essa via se pudesse convencer o produtor a mudar de nome. Depois, e de tantas opiniões de apoio que recebi, fui mais longe e alertei para as possíveis questões legais. Estaremos perante a “utilização abusiva de designação legal”?

Fiz a pergunta à ASAE, de quem espero resposta.

Para não deixar arrefecer este assunto, ainda estamos em período de férias, vou apresentar hoje alguns comentários escritos que recebi recentemente. Muitos deles são produzidos por personalidades de reconhecido mérito a nível nacional. Todos os comentários estão devidamente assinados no meu arquivo e permito-me publicá-los sem as respectivas assinaturas.

Sem comentários, como uma leitura de Verão.

 

“Estou ao seu lado porque me indigno também com esta ideia peregrina de inventar a "Alheira de Bacalhau".

Será que os cozinheiros, na sua corrida desenfreada e assoprada pelos métodos sujos do marketing, não têm coragem de manifestar criatividade até no nome do produto final, acaso achem que são criativos ao lançar este enchido? A língua portuguesa é de vastos recursos para poder dar nomes novos àquilo que se inova e isso aparece todos os dias mesmo na comida rápida e para transportar o consumidor, falsamente,  para algo de familiar: sopa da avó Teresa, sandes do campo, etc…

 Continue a desmascarar estas invenções adulteradoras.  É falando assim que se contribui para um consumidor exigente e para a conservação dos nossos pratos tradicionais, verdadeiros monumentos e acervo da nossa cultura.”

 

 

“As tuas crónicas, são merecedoras de destaque. Partilho totalmente com as tuas opiniões, criar uma receita é um ato maravilhoso, adulterar uma receita já existente é "crime". Temos de mostrar a nossa indignação para com estes atentados.”

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“Caro Virgilio, realmente que triste ideia esta da alheira de bacalhau! se os cripto-Judeus que inventaram a alheira se tivessem lembrado disto,.... ainda que vá, mas não! Além disso deve ser repugnante. Nunca provei! Nem tenciono...

Um abraço longe da alheira do dito escamudo.”

 

 

“Boa, Virgílio, dá na cabeça desses vendilhões do Templo. Estou contigo.”

 

“Todos vamos seguindo atentamente esta “alheira”.

Uma coisa é certa: A tradição ainda é, (e deve ser) o que era e, neste particular as normas são justificativos.”

 

 

“ Assim mesmo, é que é “. Esta gente, precisa de quem lhes puxe as “ orelhas “. Daqui a nada, não há regras. Não deveremos de deixar que a nossa gastronomia, seja igual, ao que se passa no nosso país…”

 

 

“Estou completamente ao seu lado!”

Vou verificar mas acho que até há (ou houve) uma Norma Portuguesa que definia alheira

Por outro lado, está definido legalmente o que é Alheira de Vinhais, Alheira de Mirandela, Alheira de Barroso-Montalegre, e em curso de definição Alheira de Boticas

 

 "Temos que lutar contra a utilização abusiva que corrompe a reputação e induz o consumidor em erro sobre a origem, natureza e composição dos produtos, sobretudo quando são produtos tradicionais portugueses.”

 

 

“Marcharei contigo, pois sou também um grande apreciador da verdadeira alheira, que espero encontrar dentro de dias em casa de uns amigos meus de Trás-os-Montes, que vivem no Porto, e onde eu e A passaremos o próximo fim-de-semana”

 


“ Acabei de ler o teu artigo sobre a alheira de bacalhau e, de facto, é um insulto aos transmontanos da Terra Fria.

Como sabes eu fui a terceira geração da família que explorou a indústria de carnes verdes e enchidos.”

 

 

“Na realidade, vale tudo. Alheira de bacalhau, para quê? É contra este vanguardismo que eu me insurjo e cada vez  mais estou convencida que “eles” fazem as coisas uns para os outros. É uma corrida desenfreada para ver quem chega primeiro a escandalizar mais. Eles dizem que gostam de surpreender: Têm as papilas estúpidas ou cansadas, as minhas, graças a Deus, ainda se emocionam com um bom pastel de bacalhau. Muito visto? Quem lhe resiste? E porque é que há que resistir-lhe?”

 

 

 

“Que te posso dizer? Primeiro que tens toda a razão; depois que gostei do que li na tua peça “adversus alleiriae”; e finalmente que me recuso terminantemente a provar a dita “alheira de bacalhau”.

Já basta bem o que da alheira se aviltou e o muito que dela se desconhece.”

 

 

 

“Obrigado pelo seu protesto acerca do assunto o qual traduz a indignação que, também eu, senti ao ter conhecimento e experimentado tal aldrabice.

Como sou leigo nesta matéria, limitei-me a encolher os ombros e prometer não repetir. Ainda bem que há quem não deixe os nossos créditos por mãos alheias. O meu apoio.”

 

 

“Estou plenamente de acordo consigo.

Deve criar uma petição contra o enchido de bacalhau.”

 

 

“Não posso estar mais de acordo com a tua crónica.

De transmontano, por "herança" - veja-se o nome do meu avô e a serra do dito nome - aqui vai o meu forte abraço de sincero aplauso!

Talvez, pelas razões atrás mencionadas afeiçoei-me às ditas de Chaves.”

 

 

 

“Tem toda a razão.

Teremos de combinar a estratégia de ataque à falsa alheira.”

 

Entretanto, para além das alheiras de bacalhau e vegetarianas, apareceram também as de marisco que contêm o produto “delícias do mar” que é um sucedâneo alimentar.

 

Vivam as alheiras tradicionais

Bom Apetite!

 

Virgílio Nogueiro Gomes