Rosca Doce para o Natal
Roscas há por todo o país, especialmente do centro para o norte. Mas há roscas mais especiais do que outras, e muitas vezes têm um caracter local ou regional que estão longe das tradições chamadas nacionais.
O Natal é pródigo em surpresas e muitas delas doces. É sobre uma dessas que irei escrever. Segundo o “Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa”, de José Pedro Machado p termo “rosca” tem origem obscura, provavelmente pré-romana. No século XVII é utilizado este termo por Manuel Bernardes e ainda mais antigo pois no século XVI aparece o termo enroscado… Quando nos referimos a rosca pensamos de imediato numa peça de pão branco, geralmente feito com farinha de trigo, e cozido em forma arredondada e com espaço central, ou até parecida com a regueifa de tradição duriense. Não vou aqui rescrever sobre esta variedades, mas concentrar-me no excelente presente de Natal que este ano me foi oferecido na sequência de um almoço de prestígio para a gastronomia portuguesa. Eramos poucos, mas valorosos, e senti-me muito honrado por me terem convidado.
Já escrevi algumas vezes que o pão é, para mim, a maior criação culinária da Humanidade. E que para mim os primeiros doces surgiram do gradual enriquecimento de massa de pão, inicialmente com ovos e depois acrescentos com mel, com açúcar, com canela, com azeite, com banha de porco, com aguardente, com canela, com frutos secos, … e muitos outros produtos.
Esta Rosca Doce para o Natal é bem o exemplo de criação de uma receita aproveitando o que existiria na época naquelas casas. Supõe-se ter nascido na região de Gândara / Baixo Mondego e já a Avó na minha amiga Olga Cavaleiro a fazia. E não faz parte dos cadernos ou livros de receitas. Esta rosca parte de uma massa de pão, enriquecida com pouco açúcar e poucos ovos, enriquecida com nozes e ou amêndoas e depois de enrolada e colocada, no tabuleiro de ir ao forno, é enfeitada (qual bolo-rei) com fatias de marmelada. Parece estranho. Experimentem e depois vejam o resultado. Era hábito fazer com os ingredientes de que se dispunha e, em boa hora, sem haver as caras frutas cristalizadas, a marmelada veio a calhar muito bem. Eu tive a sorte de receber uma rosca inteira, que partilhei. Em boa hora a minha amiga Olga Cavaleiro se lembrou de mim e me fez este regalo que não esquecerei. Aproveitei e fiz duas fotos onde se pode observar o pano bordado e uma renda que acompanham sempre estas festas.
O Natal não é de ricos nem de pobres: é de quem o quer viver e comemorar. Na simplicidade estão muitas virtudes.
Boas Festas e BOM ANO 2021.
© Virgílio Nogueiro Gomes